"Receio todos temos, mas temos de transitar, não podemos parar a vida por consequência disso, temos de ter cuidado, mas parar a vida não", disse, em declarações à Lusa, Cristiani Chanea, natural do Brasil, e que se prepara para viajar para o Rio de Janeiro, onde se encontra a sua mãe doente.
Cristiani Chanea, à semelhança da generalidade das pessoas que, esta manhã no aeroporto Francisco Sá Carneiro se prepararam para zarpar para outros destinos, está, aparentemente, "tranquila".
"Procuro não espirrar perto de ninguém, nem falar muito perto, lavar muito as mãos com álcool gel", afirma, adiantando que os filhos já não vão às aulas e que, no seu emprego, que é na área da restauração, estão a existir algumas "restrições".
"No trabalho está restrito. Temos de usar máscara, a higiene é a máxima possível, os restaurantes estão a fechar e trabalhar mais com o 'take away', é a forma que vamos ter de enfrentar mais esta", admitiu.
Se, por um lado, o emprego de Cristiani Chanea está "restrito", já o de Érica Pereira, também natural do Brasil, não é, para já "garantido".
Érica veio trazer os pais ao aeroporto. Apesar de não ir viajar, precaveu-se. Está de máscara e na sua mala transporta um frasco de álcool gel.
"Ando com álcool em gel, tenho álcool dentro do carro e não cumprimento as pessoas. Não por falta de educação, mas por medo", admitiu a jovem, que tem ficado em casa, juntamente com o filho de 3 anos.
"[As medidas de restrição] vão afetar muito, porque eu trabalho, o meu marido trabalha e o meu filho precisa de estar na escola para nós podermos trabalhar. Um de nós vai ter de deixar de trabalhar para ficar em casa enquanto que o outro tem de ir para a rua, trabalhar, correndo a possibilidade de ainda contrair o vírus e o trazer para casa. É mesmo complicado", desabafou.
Pelo aeroporto Francisco Sá Carneiro vários são os frascos desinfetantes espalhados, ora perto dos elevadores, ora das máquinas de levantar dinheiro, mas, poucos são os que os utilizam, bem como as máscaras de proteção.
Lhiyuan Lin, natural da China, preveniu-se, utilizando uma máscara, aliás, à Lusa, admitiu já ter "experienciado de tudo" dada a situação vivida no seu país de origem e, por essa razão "conhecer a situação".
"Não estou muito preocupado porque sou da China e há dois meses que já experimentei tudo e por isso conheço a situação. Uso máscara para poder proteger os outros e a mim também", afirmou o jovem que de partida para a Bélgica, veio a Portugal para uma conferência internacional.
No painel de informação, destinos como Madrid, Madeira, Amsterdão, Bruxelas, Luxemburgo, Frankfurt, Londres, Berlim, Barcelona e Paris são alguns dos voos assegurados. O fluxo de passageiros continua, aparentemente, normal, mas nem todos veem as medidas de segurança e prevenção como adequadas, aliás, José Luís Ramos, considera-as "um pouco exageradas".
"Acho que estão a fazer um pouco de alarmismo a mais. (...) Isto está a ser um pouco exagerado, até nas grandes superfícies estarem a levar tudo e a deixarem as prateleiras vazias. Acho que é um pouco exagerado, mas há que ter precaução", revelou.
José Luís Ramos, que veio trazer a neta e filha ao aeroporto para embarcarem para o Luxemburgo, diz, no entanto, ter vindo a ter alguns cuidados, nomeadamente, a "lavagem das mãos, nada de cumprimentos e desinfetar as mãos".
"Receio não, um pouco de cautela, mas receio não (...) Sempre cuidado com a lavagem das mãos, nada de cumprimentos, sempre com desinfetar as mãos", concluiu.
Se por ali, o movimento continua, apesar das devidas precauções e medidas de higienização, com normalidade, um painel de publicidade, não deixa, no entanto, de passar a mensagem: "Pensar Global, Agir Local", lê-se.
Segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS), dos 1.308 casos suspeitos, 172 aguardam resultado laboratorial e 5.674 pessoas estão em vigilância pelas autoridades de saúde.
O boletim de hoje indica que dos 112 casos confirmados de Covid-19 em Portugal, 107 estão internados.
Em Portugal, o Governo decretou na quinta-feira o estado de alerta, colocando os meios de proteção civil e as forças e serviços de segurança em prontidão.