Em Lisboa não faltam lugares nos transportes e azáfama no mercado

No terminal de Sete Rios, em Lisboa, onde se juntam comboios, metro e autocarros, a azáfama constante de pessoas que usam o espaço tem vindo a diminuir nos últimos dias, tendo em conta a pandemia de Covid-19.

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Lusa
13/03/2020 14:25 ‧ 13/03/2020 por Lusa

País

Covid-19

 

São poucas pessoas com quem a Lusa consegue falar, já que algumas se deslocam em passo apressado para não perder o transporte e preferem não ser entrevistadas.

Os autocarros 701, 716, 726 e 758 vêm com a frequência habitual e quem entra consegue sempre lugar para se sentar. Há quem saia a correr do comboio que acabou de chegar e vá diretamente para o autocarro.

"Têm mais sorte as pessoas agora, arranjam lugar e os autocarros vão muito mais vazios", diz à Lusa um motorista, que não se quis identificar

As apostas e o tabaco continuam a sair na tabacaria que se encontra dentro do terminal, mas Rogério Almeida explica que o movimento tem vindo a "descer gradualmente ao longo da semana" e, consequentemente, "também as vendas dos outros produtos".

Mesmo em frente, no quiosque do café, os empregados referem que o "movimento diminuiu", salientando que o "fluxo de pessoas que vem de comboio é muito menor".

"Agora já se veem mais pessoas com as máscaras, no início da semana não era assim", explicou um dos empregados, acrescentando: "É mau para o patrão. Para nós, temos menos trabalho".

David Almeida segue em passo apressado, acompanhando uma jovem que tinha ido buscar ao aeroporto. Hoje ainda tinha aulas, mas não foi.

"Vou cumprir com as medidas que a Direção-Geral da Saúde está a pedir para nós cumprirmos e concordo totalmente com a quarentena. É um ato de responsabilidade e acho irresponsável por parte das pessoas que não cumprirem", refere.

Lena Silva admite estar preocupada, mas "infelizmente" tem de andar de transportes públicos. Na quinta-feira, conta, a fila para o autocarro era grande, mas "hoje está muito menos gente".

"A minha vontade era nem respirar. Tento não tocar com as mãos nos ferros e nos bancos, mas fazemos isso sem dar conta", desabafa.

Já Jorge Gomes deslocou-se até Sete Rios vindo de Sintra. Veio de carro, como habitualmente.

"De Sintra aqui demorei um quarto de hora, não é normal, notei uma diferença no trânsito abismal", afirma, salientando que "até ver" vai continuar a deslocar-se até Lisboa.

Por sua vez, Maria Laura mostra-se agradada com a menor quantidade de pessoas na rua e nos transportes, lembrando não ser habitual "encontrar lugar sentada no autocarro", onde tem tentado "não agarrar aos varões e ficar o mais possível longe dos outros".

"O laboratório onde fui fazer exames estava praticamente vazio, acho que as pessoas já se estão a resguardar e devem fazer isso", acrescenta, reconhecendo que só não ficará mesmo de quarentena em casa porque tem de passear a cadela de manhã e à noite.

A CP - Comboios de Portugal corroborou hoje, em comunicado, aquilo a que a Lusa assistiu, referindo que "no momento atual, se verifica já algum abrandamento da procura nos comboios da CP, facto que deverá acentuar-se nos próximos dias em função das recentes orientações do Governo". Contudo, não estão disponíveis "dados efetivos dessa redução".

Noutro ponto da cidade, no mercado de Alvalade, as pessoas não guardam umas das outras a distância de um metro recomendada pelas autoridades de saúde. A banca do peixe e a padaria são aquelas que mais pessoas têm. E as vizinhas continuam a conversar juntas, enquanto esperam por ser atendidas.

"Açambarcamento mesmo. Nós fomos criados para isso. Só se pensa em açambarcar", desabafa Lídia Martins, adiantando que as pessoas levam de tudo para casa, "desde a garoupa ao carapau", esperando que tenham local para armazenar em casa.

"Hoje ainda não parei. Para amanhã já tenho uma data de encomendas, muito mais do que é normal, agora é às sacadas", avançou, lembrando que um cliente habitual, "que gosta muito de atum, ontem veio e levou um lombo e hoje já cá veio comprar outro".

Num dos talhos, só se encontra um talhante, que diz não ter mãos a medir. Apesar de não ter ninguém na loja, está a despachar encomendas feitas pelo telefone: "Hoje foram demais, ainda não parei".

Na banca da fruta da dona Rosa, as pessoas têm levado mais coisas para casa nos últimos dias. Batatas, cenoura e cebolas, "aquilo que se aguenta mais", explica.

O mercado de Alvalade tem 56 operadores. Os mais idosos retiraram-se por precaução, disse à Lusa fonte do espaço, revelando que o trabalho está a 95% do que é normal.

A mesma fonte explicou ainda ter feito um apelo para os comerciantes minimizarem as entregas ao domicílio.

O boletim de hoje indica que, dos 112 casos confirmados de Covid-19 em Portugal, 107 estão internados.

Em Portugal, o Governo decretou na quinta-feira o estado de alerta, colocando os meios de proteção civil e as forças e serviços de segurança em prontidão.

 

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