Instituições coordenam-se para garantir assistência a sem-abrigo

A comunidade de pessoas sem-abrigo não regista casos de infeção por Covid-19, mas as instituições têm reforçado a informação junto desta população mais vulnerável e coordenado esforços para que não falte assistência nem infraestruturas de contingência.

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Lusa
13/03/2020 22:27 ‧ 13/03/2020 por Lusa

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Covid- 19

O coordenador da Estratégia Nacional de Integração de Pessoas em Situação de Sem-Abrigo (ENIPSSA), Henrique Joaquim, disse à Lusa que o seu trabalho, no âmbito do surto de Covid-19, tem passado por garantir que os Núcleos de Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo (NPISA), maioritariamente geridos pelas autarquias, têm conhecimento dos planos de contingência das instituições que trabalham com esta população específica.

Os NPISA, explicou, estão também a trabalhar com as instituições para adequar os planos de contingência, construídos com as orientações da Direção-Geral da Saúde (DGS), às realidades e necessidades locais e a "prever eventuais medidas mais drásticas que seja necessário tomar caso alguma destas organizações não consiga fazer o papel que até agora tem feito".

Pode, por exemplo, ser necessário um plano de retaguarda para situações em que uma associação, que dependa quase na totalidade do voluntariado para assegurar a assistência à comunidade sem-abrigo, tenha, de repente, uma quebra significativa de voluntários e seja preciso assegurar localmente alguém que os substitua.

Até agora não se registou qualquer problema ou rutura nos serviços, mas já há alguns sinais de receio entre os voluntários, admitiu Henrique Joaquim, que os considera compreensíveis.

"Tenho tido notícias de que sim, mas nada de anormal face ao contexto, como também temos tido notícia de muitos voluntários que agora mais do que nunca reforçam o seu sentido de missão. Mas penso que é normal as pessoas estarem alarmadas. É normal que quem se voluntaria tenha algum receio", disse.

Na segunda-feira está prevista uma reunião conjunta com a DGS para "fazer um ponto de situação" e equacionar o que pode ser preciso reforçar.

"Nos planos de contingência todos estão a contemplar, em caso de rutura de serviços ou da prestação de apoio, que este grupo esteja salvaguardado na atuação da Proteção Civil", disse o coordenador da ENIPSSA.

Para já, referiu Henrique Joaquim, as instituições têm colocado em prática os seus planos de contingência e o trabalho de rua, atendimento presencial e nas instituições de acolhimento e albergues tem corrido "sem sobressaltos" ou ruturas na entrega diária de refeições, por exemplo, ainda que com reduções no serviço ao mínimo indispensável e adiando o que pode ser adiado, prevendo ainda salas de isolamento.

Tem sido dada nesta fase particular importância à sensibilização e distribuição de informação junto dos sem-abrigo.

Ainda sem casos de infeção detetados, a aposta é na prevenção, também de quem presta cuidados, que tem orientações específicas sobre como deve estabelecer contactos para evitar o contágio e de como deve proceder caso se confronte com um caso suspeito, sendo que o protocolo passa por contactar a linha SNS24 e aguardar instruções.

"Estamos a negociar com as autoridades locais a possibilidade de termos também camas para pessoas que necessitem de quarentena. No Porto já estão garantidas, em Lisboa também estamos a fazer esse esforço", disse Henrique Joaquim.

No Porto, a Santa Casa da Misericórdia assegurou essas camas, no Centro Hospitalar Conde Ferreira. Em Lisboa as negociações ainda decorrem com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, com a autarquia e outras instituições que possam disponibilizar esse tipo de infraestrutura, adiantou o coordenador da ENIPSSA.

A diretora da associação Comunidade Vida e Paz, Renata Alves, frisou o trabalho de sensibilização feito pelos voluntários no momento da entrega diárias das ceias às pessoas sem-abrigo, acompanhadas de folhetos informativos e adiantou que as reuniões das instituições em Lisboa têm servido para tentar perceber, em caso de deteção de casos suspeitos, o que podem fazer além de contactar as linhas de saúde.

"As reuniões que têm existido servem para percebermos como é que podemos ir para além disso, tendo em conta que se existirem situações de pessoas que precisarem de ficar em regime de quarentena de que forma é que as entidades podem responder", disse.

Aos voluntários da Comunidade Vida e Paz a associação entregou 'kits' de proteção individual e orientações específicas, não só de regras de higiene, mas também para o contacto com as pessoas sem-abrigo.

Renata Alves referiu que em Lisboa as associações têm tentado encontrar soluções conjuntas para ultrapassar dificuldades que vão surgindo no funcionamento dos serviços e no apoio prestado.

A associação admite, no entanto, uma redução na capacidade de atendimento dos serviços, referindo, em comunicado, "o caso dos Centros de Tratamento e Reabilitação de Fátima, Tomada e Sapataria, onde as novas admissões foram suspensas até ao final do mês".

"O mesmo tipo de limitações poderão vir a ser adotadas noutros serviços, mas com a preocupação de manter o seu funcionamento ou oferecer alternativa", acrescenta o documento.

O novo coronavírus responsável pela Covid-19 foi detetado em dezembro, na China, e já provocou mais de 5.300 mortos em todo o mundo, levando a Organização Mundial de Saúde (OMS) a declarar a doença como pandemia.

Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) atualizou hoje o número de infetados, que registou o maior aumento num dia (34), ao passar de 78 para 112, dos quais 107 estão internados.

O boletim epidemiológico assinala também que, desde o início da epidemia, a DGS registou 1.308 casos suspeitos (mais de o dobro em relação a quinta-feira) e mantém 5.674 contactos em vigilância.

Na quinta-feira, o Governo anunciou que as escolas de todos os graus de ensino vão suspender todas as atividades letivas presenciais a partir de segunda-feira, devido ao surto de Covid-19.

Várias universidades e outras escolas já tinham decidido suspender as atividades letivas.

O Governo decidiu também declarar o estado de alerta em todo o país, colocando os meios de proteção civil e as forças e serviços de segurança em prontidão.

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