No espaço de Grande Entrevista, na Antena da RTP3, Fernando Maltez, diretor do Serviço de Infecciologia do Curry Cabral, analisou a progressão da pandemia do novo coronavírus, designadamente em Portugal. Para o especialista, "a escalada exponencial de casos não era previsível".
Pese embora este ainda seja um vírus novo e, portanto, desconhecido, vários especialistas têm-se debruçado sobre a sua evolução a nível mundial. E, de acordo com "um estudo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças", acrescentou Fernando Maltez, "caminharemos para um colapso dos serviços de saúde" a nível europeu, nomeadamente no que aos "cuidados intensivos" diz respeito.
Fazendo uma projeção, acredita o diretor do Serviço de Infecciologia que se se atingir "uma taxa de internamento até 17/18 por 100 mil habitantes, como aconteceu na Lombardia, os cuidados intensivos de 12 países da União Europeia irão colapsar". Se esse número for superior, "de 100 internamentos por 100 mil habitantes, provavelmente todos os países da UE colapsarão na sua resposta em cuidados intensivos".
Perante esta pandemia, "que tem uma gravidade inesperada e para a qual não temos qualquer terapêutica nem vacina", torna-se imperioso optar pelo "isolamento social, quarentena, auto-disciplina e afastamento de aglomerados populacionais".
Com efeito, questionado relativamente à pertinência da declaração do Estado de Emergência em Portugal nesta fase, o infeciologista foi perentório: "Esta medida faz todo o sentido", porém mais não é do que "tornar obrigatórias medidas sugeridas que a população portuguesa parecia adotar voluntariamente".
No que ao pico de Covid-19 esperado diz respeito, Fernando Maltez reiterou as informações já avançadas pelas autoridades de saúde, que apontaram que esse pico é esperado para "final de abril, princípios de maio". Por outras palavras, esta será a fase em que é esperado "um maior número de doentes internados a serem tratados em hospitais".
Quanto à possibilidade de um novo surto de coronavírus no próximo inverno, Fernando Maltez defende que "é imprevisível". Na ótica do especialista, "tudo pode acontecer quanto à resposta do vírus a temperaturas". Acredita-se, no entanto, que "o coronavírus, tal como o Influenza (vírus da gripe) se dê mal com a grande humidade e grande temperatura". Mas "quando surgem estes vírus de forma pandémica, mantêm-se durante décadas".
A média da taxa de mortalidade da Covid-19 "andará entre 50 e 60 anos", mas os pacientes mais afetados são habitualmente os "que têm comorbilidades - doenças associadas - que diminuem as suas defesas". Com efeito, considerou o especialista que pessoas com mais de 55 anos são consideradas de risco, já que têm maior "probabilidade de desenvolver uma doença mais complicada".
O facto de esta faixa etária ser mais afetada é justificado pelo facto de se tratarem de "doentes com menos imunidade, quer pelo envelhecimento, quer pelas patologias associadas". Isto porque o vírus entra na "árvore respiratória através de recetores funcionais que aumentam com o tabaco e a idade. Por isso, a doença não costuma ser tão importante nas crianças".
Portugal conta, até ao momento, com três pacientes curados depois de terem sido infetados com o novo coronavírus. Detalhou Fernando Maltez que em casos "clinicamente ligeiros" é estimada uma recuperação em duas semanas. Os que "inspiram alguma gravidade", a cura "nunca será inferior a quatro semanas". Já para os casos de pneumonia grave e que correm risco de morte, caso recuperem, isso nunca acontecerá "antes das seis/oito semanas".
Adiantou o diretor do Serviço de Infecciologia do Curry Cabral que, amanhã, quinta-feira, mais dois pacientes infetados deverão ter alta, uma vez que já testaram negativo "e estão assintomáticos", restando apenas "fazer a repetição do exame".