A foto do 1.º bebé nascido de uma mãe com Covid-19 em Portugal
“Corpo às balas e colo a quem dele precisa", o testemunho emocionante da enfermeira que lhe dá biberão.
© Facebook / Sofia Guimarães / José Castro
País Coronavírus
No meio do caos há sempre momentos que nos devolvem a esperança e este é um deles. A imagem pode ser chocante, mas o bebé que está a ser alimentado, pela enfermeira Sofia Guimarães que aparece completamente coberta por um fato de proteção, nasceu de uma mãe infetada pelo novo coronavírus, mas o recém-nascido não é portador do vírus.
A menina que vemos na fotografia, partilhada nas redes sociais pela enfermeira que a alimenta, foi o primeiro bebé a nascer em Portugal de uma mãe infetada.
O parto, na passada terça-feira, foi feito de forma natural, no Hospital de São João, no Porto, e correu bem. Para já a amamentação é que não é recomendada. A mãe faz extração do leite e os enfermeiros da unidade de Cuidados Intensivos Neonatais dão o biberão à criança.
Na mesma publicação da foto, que foi tirada pelo enfermeiro José Castro, Sofia Guimarães escreveu um testemunho emocionante. Ora leia:
"Corpo às balas e colo a quem dele precisa. A vida suspende-se lá fora e o tempo pára. O tempo para o qual nunca têm tempo, chega agora a ser maçador. Convencem-se as pessoas que a ausência de manifestações de afecto levarão a que outros vivam. Apela-se a que a população permaneça em casa, na qual muitos de nós já não vivem e da qual temos saudades. Dizem-nos que estão nas nossas mãos, quando todos estamos nas mãos de todos. Suportamos o queixume de quem vive condicionado, enquanto sacudimos da memória as vidas sepultadas num país vizinho que desejamos não serem as nossas. Carregamos este maremoto que nos engole os dias com a bravura própria de quem tem medo mas muito mais coragem. De quem tem tanto sentido de missão como de estado. De quem se entrega com total abnegação ás horas difíceis de um País, apesar das dezenas de horas que falha aos seus. De quem continua onde sempre esteve sem muitas vezes ser lembrado. A verdade é que mesmo desligando as luzes que hoje se abatem sobre nós, continuamos onde nunca saímos: a ser casa, a ser colo e porto de abrigo só que no escuro. Há uma mãe que inveja através de um vidro o cuidar que deveria ser o seu, no final de tantos meses sonhados expressos em semanas. Que lhe inveja o toque pelo modo como sorri com o olhar. Que lhe inveja o embalo. Que lhe inveja o sentido de protecão de um filho que é seu, o qual ainda não abraçou e sentiu o cheiro mas que com todas as suas forças fez nascer. Sabemos que hoje esta distância a fere mais que a dor do seu parto, porque os nossos dias de trabalho nos ensinaram a ler as linhas do rosto mesmo quando as tentam esconder. Por menos colos vazios: fiquem em casa! À qual depois da tempestade todos nós desejamos voltar”
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