As duas brigadas dos Baldios da Lousã, com um total de seis trabalhadores, estiveram paradas na quinta e na sexta-feira, os dois primeiros dias após ter sido declarado o estado de emergência em Portugal, que vigora desde as 24:00 de quarta-feira.
"Temos muito trabalho para fazer", disse à agência Lusa Manuel Parola Gonçalves, presidente dos Baldios daquela vila do distrito de Coimbra.
Logo que se tornaram claras as orientações do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a entidade representativa dos compartes decidiu retomar na segunda-feira os serviços de gestão de combustível florestal.
Estes trabalhos são realizados para empresas, autarquias e particulares, e incluem também a intervenção nos baldios, bem como a prestação anual do serviço público contratualizado com o ICNF, que financia os sapadores através do Fundo Florestal Permanente.
"Nos dois últimos anos, tivemos cada vez menos pedidos de particulares", afirmou Manuel Parola, ao admitir que em "muitos casos" os donos dos terrenos "começaram eles a fazer esse trabalho".
Face às medidas de exceção em vigor, o conselho diretivo, seguindo a indicações do ICNF, deu aos sapadores "o que era obrigatório" para assegurar as condições de saúde e segurança previstas na lei, tal como luvas, máscaras, gel e desinfetante.
Quando saem, os trabalhadores dos Baldios da Lousã separam-se em grupos, viajando três em cada viatura.
No regresso ao estaleiro, o interior dos veículos e os equipamentos, como motosserras e roçadeiras, são desinfetados com uma solução de água e lixívia, uma rotina diária assumida por outras brigadas de sapadores contactadas pela agência Lusa.
Os sapadores da Lousã efetuam serviços regulares para a Câmara local e reservam um dia por semana para responder a solicitações de idosos.
No calendário dos serviços agendados, "existem mais atrasos na rede pública viária", disse.
Ao contrário dos Baldios da Lousã, em cujas propriedades não funcionam parques eólicos, os congéneres de Vilarinho, no mesmo concelho, e de Vila Nova, no município de Miranda do Corvo, têm receitas das empresas que produzem energia do vento nos seus terrenos.
Os sapadores de Vila Nova ficaram em casa na sexta e na na segunda-feira, devendo regressar hoje ao trabalho, disse à Lusa a técnica Dulce Pedro.
A juntar ao problema da covid-19, que atrasou alguns trabalhos, na Serra da Lousã, já havia tendência para "uma diminuição de pedidos" dos particulares.
Após os incêndios de 2017, havia mais solicitações, pois "as pessoas estavam muito assustadas" e queriam cumprir os prazos, recordou Dulce Pedro.
"Os pedidos têm vindo a diminuir gradualmente", face ao limite de 15 de março, com os clientes a pretenderem as intervenções em abril ou maio, "para não terem de voltar a limpar" antes dos meses previsivelmente mais propícios à eclosão de fogos.
A geógrafa, que está em regime de teletrabalho, realçou ainda que as pessoas, "mais preocupadas" com a covid-19, poderão estar "a esquecer outras obrigações".
Em Vilarinho, na Lousã, os sapadores estão parados desde quarta-feira e só deverão recomeçar a trabalhar no dia 01 de abril.
"Estão em casa até 31 de março e depois se vê", declarou à Lusa Luís Trota, presidente dos Baldios daquela antiga freguesia, que presta serviços noutros municípios serranos.
Prevendo um acréscimo de encargos com pessoal e transporte em grupos separados, o dirigente defende que "primeiro está a saúde das pessoas".
"Temos muito trabalho à espera. Mas, com esta pandemia, não sei como vai ser", enfatizou Luís Trota.
Entretanto, sem indicações do Governo sobre eventual alteração de prazos na limpeza dos terrenos, fonte da GNR disse à Lusa que o processo de fiscalização decorre normalmente até ordens em contrário.
"Aguardamos que possa haver essa alteração", afirmou a fonte, referindo-se aos prazos da gestão de combustíveis florestais.
Antes do final do prazo para os proprietários concluírem os trabalhos de limpeza, 15 de março, pedido que foi reforçado nos últimos dias, a Lusa questionou o Ministério da Administração Interna, mas ainda não obteve resposta.