Passa hoje, Dia Nacional do Estudante, uma semana e um dia desde que todas as escolas fecharam, por decisão do Governo para tentar conter a disseminação do novo coronavírus que infetou pelo menos 2.362 pessoas em Portugal. Mais de dois milhões de crianças e jovens, desde a creche ao ensino superior, estão em casa e alguns já começam a ter saudades dos tempos de escola.
"Os miúdos estão fechados em casa e começam a valorizar mais a escola. Tenho recebido mensagens de alunos a dizer que têm saudades, a dizer que na escola é que estavam bem e que na escola é que se aprendia", contou à Lusa Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE).
As aulas fazem-se agora através do telemóvel ou de um computador. Nem todos os professores aparecem no écran. Ainda há muitos que usam aplicações em que a aula é dada apenas através de texto -- nos 'chats'. Os quartos, cozinhas e salas de casa passaram a ser as novas salas de aula. As mesas, sofás e até camas são as secretárias dos estudantes. O barulho dos colegas acabou ou foi substituído pelo barulho de irmãos, pais ou avós.
A Lusa contactou vários pais e encarregados de educação que confirmaram este sentimento: aos alunos "falta-lhes os colegas e os professores", falta-lhes "a liberdade de estar longe dos pais".
"Os alunos já têm saudades da escola e, quando este período acabar, ainda vão gostar muito mais, não só da escola, como dos recreios e dos professores", corroborou Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores e Agrupamentos e Escolas Públicas.
"Se calhar até vão ter saudades da comida da cantina que antes falavam mal e fotografavam", ironizou o professor e diretor de um agrupamento de Vila Nova de Gaia, que lembra que é preciso manter a boa disposição e olhar para o lado positivo.
E, neste caso, "a parte boa é passarmos a dar valor a quem nunca demos e tratar bem quem por vezes tratámos mal", disse Filinto Lima, referindo-se aos lamentáveis casos de agressões verbais e físicas a professores.
Tanto Manuel Pereira como Filinto Lima acreditam que o ensino à distância é uma solução provisória e que em breve alunos, professores e funcionários estão de regresso às escolas.
"A docência faz-se cara a cara. É um erro começar a pensar que o futuro é o ensino à distância. O futuro vão ser as aulas presenciais", sublinhou Filinto Lima.
Também Mário Nogueira, secretário-geral da maior federação de sindicatos de professores, a Fenprof, já vaticinava este cenário na semana passada, numa conversa com a Lusa: "Se hoje as pessoas vão à janela aplaudir os profissionais de saúde, daqui a um mês estão a aplaudir os professores e todos os outros profissionais de educação".
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 360 mil pessoas em todo o mundo, das quais cerca de 17.000 morreram.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
O continente europeu é aquele onde está a surgir atualmente o maior número de casos, e a Itália é o país do mundo com mais vítimas mortais, com 6.077 mortos em 63.927 casos. Segundo as autoridades italianas, 7.024 dos infetados já estão curados.
Em Portugal, há 23 mortes e 2.060 infeções confirmadas, segundo o balanço feito segunda-feira pela Direção-Geral da Saúde.
Dos infetados, 201 estão internados, 47 dos quais em unidades de cuidados intensivos.
Portugal encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de quinta-feira e até às 23:59 de 02 de abril.
Além disso, o Governo declarou dia 17 o estado de calamidade pública para o concelho de Ovar.