"Hoje começamos a produzir as primeiras batas e toucas que vão ser enviadas para três hospitais do Porto. O objetivo é depois produzirmos para o hospital de Viana do Castelo e outros que precisem. As batas e toucas são só para os hospitais e centros de saúde para serem esterilizadas e assim não colocarmos a causa a saúde pública", afirmou hoje à agência Lusa, Paula Santos.
Aos 47 anos, desempregada e a frequentar a licenciatura em Gestão de Qualidade, na Escola Superior de Ciências Empresariais (CSCE) de Valença, suspensa devido ao novo coronavírus, Paula Santos decidiu que "não podia ficar parada a assistir à escassez de equipamentos de proteção individual que afeta os profissionais do Serviço Nacional de Saúde (SNS)".
"Como estou fechada em casa pensei em ocupar-me, ajudando no que puder. Não tenho posses económicas, mas tenho jeito para a costura. Decidi vou pedir ajuda", explicou.
A máquina de costura "barata" que estava guardada e os conhecimentos da "arte" que adquiriu durante juventude ajudaram a alinhavar o projeto de produção que propôs, na segunda-feira, aos seguidores da sua página no Facebook.
"Sei que Vila Nova de Cerveira é uma terra muito humana, mas nunca pensei que o meu apelo atingisse as ofertas de ajuda que tenho recebido, até de concelhos vizinhos como Monção, Valença e Caminha", adiantou.
Em "menos de 24 horas" voluntariaram-se "mais de 110 mulheres" que, a partir de casa, vão costurar as batas e toucas que "tanta falta fazem aos profissionais de saúde".
A filha de Paula, enfermeira, deu-lhe as primeiras orientações para avançar com o projeto solidário e, "rapidamente", conseguiu reuniu "o apoio de outros profissionais de saúde com mais conhecimento sobre as necessidades de quem está na linha da frente do combate a uma guerra invisível".
A matéria-prima para iniciar hoje a confeção das primeiras batas e toucas está garantida, mas Paula Santos está a ter dificuldade em conseguir o TNT- Tecido Não-Tecido (material semelhante ao tecido mas obtido através de uma liga de fibras e um polímero), impermeável/respirável de 70 gramas, necessário "para a melhor proteção dos profissionais de saúde".
"Os preços são exorbitantes e não tenho como comprar esses tecidos. Por isso lançava outro apelo às empresas ou quem nos quiser doar esse material e as linhas de costura para, com o nosso trabalho, podermos continuar a costurar para os profissionais de saúde", apelou.
"Amanhã chegam mais 100 metros de tecido doado por uma empresa Lisboa", enalteceu.
A matéria-prima que conseguiu arranjar, bem como os moldes das batas e toucas, começam hoje a ser distribuídos, porta-a-porta, pelas suas costureiras voluntárias.
"Essa é a imposição. Sou doente de risco. Tenho de me cuidar para poder apoiar os meus pais. Por isso, cada uma participa em casa onde todos temos de ficar para vencermos esta guerra", referiu, adiantando que o produto final seguirá pelos correios.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 386 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram cerca de 17.000.
Em Portugal, há 33 mortes e 2.362 infeções confirmadas, segundo o balanço feito na terça-feira pela Direção-Geral da Saúde.
Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 02 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março e até às 23:59 de 02 de abril.
Além disso, o Governo declarou dia 17 o estado de calamidade pública para o concelho de Ovar.