"A situação é preocupante e obriga-nos a ser o mais assertivo possível. Tenho o orgulho de chefiar uma equipa de 4.000 pessoas que estão a dar tudo por tudo. Mas se as pessoas que estão fora daqui não forem capazes de cumprir as regras básicas de segurança, o nosso trabalho não serve de nada", disse Rui Guimarães.
No CHVNG/E estão internados 38 doentes com o novo coronavírus, nove dos quais em cuidados intensivos, e o presidente do conselho de administração não tem dúvidas: "Este número vai subir muito nos próximos dias. Temos percebido que a cadeia de transmissão é fortíssima".
Por esta razão, Rui Guimarães defendeu, em declarações aos jornalistas esta manhã depois de ter apresentado um centro de testes covid-19 considerado como de última geração, que "não vale a pena continuar a onda de que temos de comprar mais ventiladores ou arranjar locais para colocar as pessoas, se não formos capazes de explicar as medidas de isolamento".
O presidente do CHVNG/E criticou quem "ainda olha para esta situação de forma leviana", apelando que "fiquem em casa se querem ajudar os profissionais de saúde", sendo que alguns deles "estão infetados" e todos juntos são "um grupo de risco".
"A nossa [equipa da] saúde ocupacional tem-nos mostrado que só temos casos positivos se estivermos distraídos. Não podemos baixar a guarda. No momento que em que vamos à copa tomar um café e falamos para o lado, é nesse momento que a transmissão ocorre. E toda a gente tem de perceber que o nosso país é o último da cadeia a ser abastecido. A Europa toda está com grandes dificuldades", sublinhou.
Rui Guimarães frisou que "um hospital tem uma missão a desempenhar que continua", porque estão lá "pessoas com muitos problemas de saúde" que "devem ser afastadas o máximo possível os suspeitos [covid-19]".
"O número de casos que vão entrar nos hospitais irá ser de tal forma grande que estamos a transformar enfermarias normais em enfermarias covid-19. Estamos a pedir um esforço gigante às equipas", sublinhou.
Já sobre o número de ventiladores, Rui Guimarães respondeu que "foram adaptadas várias áreas que nada tinham a ver com cuidados intensivos", aumentando "em cinco vezes a capacidade de ventilação", mas voltou a frisar: "Não nos podemos esquecer que alguns desses ventiladores são para pessoas que não são covid-19 e precisam de cuidados de saúde".
Ao lado, o presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, também apelou a que as pessoas cumpram isolamento e comentou os números divulgados pela Direção-Geral da Saúde (DGS).
"Tenho muitas reservas quanto à divulgação dos números. Todos estão a perceber que ficam aquém do que se tem visto no terreno. Mas tenho de dizer que, quando relativizamos em função do número de habitantes, a percentagem de Gaia é muitíssimo baixa comparativamente com outros municípios. Não ajuda a ninguém estar a fazer 'rankings' de infetados. Aconselharia a DGS a concentrar-se a acompanhar o problema a nível nacional e guardasse os dados para si própria para poder intervir com discriminação positiva", referiu o autarca.
O concelho de Vila Nova de Gaia aparece em terceiro lugar no relatório da DGS com mais casos confirmados, 163, atrás de Lisboa (284) e do Porto (259) e antes da Maia (157).
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais 480 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 22.000.
Em Portugal, registaram-se 60 mortes, mais 17 do que na véspera (+39,5%), e 3.544 infeções confirmadas, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, que identificou 549 novos casos em relação a quarta-feira (+18,3%).
Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 02 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março e até às 23:59 de 02 de abril.