As conclusões do estudo, a que a agência Lusa teve hoje acesso, surge na sequência de uma diminuição do trânsito em Lisboa devido aos efeitos das medidas associadas à covid-19 e foi desenvolvido pelo CENSE - Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) da Universidade Nova de Lisboa.
Os investigadores do CENSE/FCT Universidade Nova avaliariam as concentrações de dióxido de azoto medidas em cinco estações de monitorização da qualidade do ar em Lisboa geridas pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo com o objetivo de avaliar o impacte que as medidas de isolamento associadas à covid-19 estão a ter na redução da poluição do ar, especialmente o tráfego rodoviário.
A análise incidiu sobre o "historial de cinco estações de monitorização em Lisboa, três de tráfego (Avenida da Liberdade, Entrecampos e Santa Cruz de Benfica) e duas de fundo, estas últimas com menores concentrações, mas representativas de uma maior área de influência".
"Baseando-nos já na análise de dez dias úteis, entre 16 e 27 de março inclusive, é possível concluir que no que respeita à comparação dos dias úteis da última quinzena com o total de dias úteis do ano de 2019, a redução da poluição varia entre 21% no Restelo, uma zona habitualmente com melhor qualidade do ar, 56% no caso da Avenida da Liberdade e 58% em Entrecampos", segundo o estudo.
Na análise efetuada, os investigadores concluíram também que na última semana, nos dias úteis, na Avenida da Liberdade, os níveis de dióxido de azoto estiveram 60% abaixo da média anual dos dias úteis de 2019 e foi a semana com concentrações mais baixas dos últimos sete anos.
A concentração média de 23 mg/m3 (microgramas por metro cúbico) está próxima de metade do valor-limite para a concentração anual que é 40 mg/m3.
Foi também possível concluir que entre a primeira e a segunda semana com restrições em vigor, verificou-se uma redução de concentrações de 15% na Avenida da Liberdade e de 25% em Entrecampos e nos Olivais.
"Apesar da variabilidade que as condições meteorológicas introduzem sempre na análise dos dados, à medida que o tempo avança é possível confirmar com maior robustez um dos poucos aspetos positivos que a atual pandemia está a ter", é destacado.
De acordo com os investigadores, o dióxido de azoto medido é principalmente consequência direta dos processos de combustão dos veículos, sobretudo dos que utilizam o gasóleo como combustível, que apresentam maiores emissões do que os veículos a gasolina.
Em declarações à agência Lusa, Francisco Ferreira, professor na área da qualidade do ar na FCT da Universidade Nova e presidente da associação ambientalista Zero, esclareceu que os poluentes que atingem concentrações mais elevadas nas cidades, em particular em Lisboa, são o dióxido de azoto e as partículas inaláveis.
"Sabe-se que há uma relação direta entre a suscetibilidade da população exposta ao novo coronavírus e elevados níveis de poluição, já que o dióxido de azoto reduz a imunidade do organismo e as partículas são responsáveis por diferentes problemas respiratórios e cardiovasculares que tornam também o nosso organismo mais suscetível a doenças como a covid-19", referiu.
Francisco Ferreira sublinhou também que, além da redução do tráfego rodoviário, há uma diminuição em outras fontes como os aviões e navios de cruzeiro e que também contribuem para uma melhoria da qualidade do ar.
"Temos de aprender com estes tempos difíceis para percebermos num caso concreto a relação entre os níveis de tráfego e a qualidade do ar de modo a, no futuro, implementarmos as medidas que nos assegurem cumprir os valores-limite de poluentes como o dióxido de azoto, o que não acontece atualmente", disse.
No que diz respeito à aviação, Francisco Ferreira disse que, apesar de não haver medições, "é muito provável que tenha havido uma diminuição significativa".