Tiago Salgadinho é enfermeiro do Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, e no passado sábado esteve durante sete horas, com uma colega enfermeira e uma médica, confinado a um quarto de pressão negativa, “sem comer, beber” e praticamente sem sentir alguma coisa para além de “suor, dores de cabeça, sede e muita vontade de sair dali”.
Contudo, conta Tiago nas redes sociais, que nenhum dos profissionais de saúde podia desistir da missão que lhes foi atribuída naquele dia. Em causa estava uma criança “pequena, em estado muito grave” que precisava “e muito” da intervenção “o mais rápida, consciente e organizada possível” destes ‘heróis’.
Ao mesmo tempo que isto acontecia e que Tiago e as duas colegas tentavam salvar a criança, centenas de portugueses decidiram passear, “visitar as praias, passear o cão cinco vezes por dia, ir ao supermercado a toda a hora e alguns ainda viajar até ao Algarve”.
Perante isto, o enfermeiro recorda que quanto mais vezes uma pessoa sair da sua residência e resistir às medidas decretadas pelo Estado de Emergência, mais probabilidade tem de ficar infetada e de contagiar outras pessoas, inclusive os próprios filhos.
“Quantas mais vezes saírem das vossas casas, mais aumentam a probabilidade de colocar os vossos filhos numa unidade de cuidados intensivos ligados a um ventilador, onde nem os próprios pais poderão entrar nesse mesmo quarto”, explica.
Por isso, atira Tiago, “quando decidirem passear lembrem-se disso, precisamos que não saiam das vossas casas, mais do que aplausos e reconhecimento no meio desta dificuldade, coisa que deveriam ter feito todas as vezes que lutámos pelos nossos direitos. Felizmente Portugal tem um excelente conjunto de profissionais de saúde que estarão aqui dia após dia, noite após noite, como em todos os momentos, por cada de vós”.