A meio da manhã de segunda-feira, em Condeixa-a-Nova, uma equipa de três elementos liderada por Pedro Camarinha, técnico superior da autarquia, começa por ir levantar as receitas médicas ao Centro de Saúde, adquire os medicamentos e passa por uma unidade de comida "take-away" antes de iniciar a distribuição.
"Levamos a casa das pessoas essencialmente bens alimentares, o cabaz e a medicação, cujo pedido é feito por chamada telefónica", explica à agência Lusa o coordenador da equipa, que se faz acompanhar pelos estagiários Nuno Trindade e António Jorge, voluntários nesta missão.
Na retaguarda desta equipa está o "trabalho exaustivo do gabinete de ação social e da proteção civil, e também do gabinete de imprensa, que ajudou a divulgar todo este projeto", sublinha Pedro Camarinha, referindo que, atualmente, estão a ser distribuídos "cinco a seis cabazes" de alimentos e 10 a 12 entregas de medicamentos diárias.
O presidente da Câmara, Nuno Moita, realça à agência Lusa que o município adotou esta medida "cedo em relação ao resto do país, porque se tomou nota do que acontecia na Europa, particularmente na Itália".
"Com a preocupação de as pessoas mais idosas e reformadas não saírem de casa, criámos uma equipa que vai ao domicílio das pessoas e substitui as suas saídas", frisa o autarca, salientando que a medida se aplica a pessoas com mais de 65 anos, reformados ou com doença crónica.
Além das compras e medicamentos para os idosos que o solicitam, a Câmara de Condeixa-a-Nova está também a apoiar os mais desfavorecidos, que já estavam sinalizados pelo gabinete de ação social.
"Temos um aumento de procura, e ainda bem, porque é sinal de que as pessoas não estão a sair de casa", disse Nuno Moita, referindo que o município está a reforçar as equipas para responder ao aumento de pedidos.
Segundo o autarca, "pelo número crescente de pedidos, as pessoas estão a gostar desta medida, que em parte as conforta, porque é uma proximidade que a Câmara leva, dentro de algo para o qual ninguém estava preparado".
Bem no interior do distrito de Coimbra, no concelho da Pampilhosa da Serra, o município iniciou também um programa de distribuição porta a porta para os mais desfavorecidos e isolados, num território com uma população bastante envelhecida e 109 aldeias muito dispersas.
"Estamos a ter uma atenção muito particular com todas as pessoas, porque sabemos que maioritariamente são pessoas de idade, que já naturalmente tinham alguma dificuldade para se deslocarem e que esta situação da covid-19 ainda veio agravar mais", realça o vice-presidente da autarquia à agência Lusa.
Segundo Jorge Custódio, "o que a Câmara fez logo no primeiro dia foi montar equipas com funcionários, que através de uma linha telefónica dedicada exclusivamente para o efeito centralizam todos os bens essenciais de que as pessoas necessitam, nomeadamente medicamentos ou alimentação".
"Obviamente, se estamos a pedir às pessoas que vivem muito isoladas para ficarem em casa, sem qualquer hipótese de virem aos mercados e supermercados fazerem compras, temos de fazer chegar essa ajuda", sublinha.
Algumas destas pessoas "já estavam sinalizadas previamente pelo gabinete de ação social e, portanto, é a própria Câmara Municipal que está a apoiar financeiramente as aquisições dos medicamentos e noutros caos há em que a Câmara faz este serviço de compras e leva ao domicílio", acrescenta.
Na segunda-feira, a seguir ao almoço, Idalina Barata, funcionária da autarquia, arrancou do centro da vila da Pampilhosa da Serra para efetuar entregas de medicamentos e bens alimentares em várias povoações do imenso território do concelho.
A primeira paragem ocorreu em Sobral de Baixo para deixar alguns sacos de compras a Laurinda Figueiredo, viúva, de 86 anos, que sofre de bronquite asmática e diabetes, e tem de rendimento apenas a reforma de sobrevivência por morte do marido.
"Não sou só eu, andamos todos assustados, mas não tenho saído de casa. O único contacto que tenho é com a minha cunhada e o marido", conta a octogenária, que se não fosse este serviço municipal não tinha forma de ir às compras à vila da Pampilhosa da Serra.
A doença consome-lhe os parcos rendimentos, já que por cada viagem até Coimbra para ir ao médico gasta 80 euros. "E só em novembro fui lá três vezes", lamenta Laurinda Figueiredo, embrulhada num xaile preto.
Mais uns quilómetros à frente, na aldeia de Coelhal, a viatura da Câmara volta a parar, desta vez para entregar uma saca de medicamentos a Gracinda Barata, também de 86 anos, que antes da pandemia da covid-19 ia de autocarro à Pampilhosa da Serra para os adquirir.
"Isto é muito vantajoso, mas não estávamos habituados", salienta à agência Lusa.
A octogenária, que tem estado sempre em casa na aldeia onde nasceu e sempre residiu, desabafa: "Para onde é que uma velha com quase 87 anos ia agora?".
Para já, alimentos não são precisos, já que depois da última visita da filha ficou com "muita coisa para arranjar, se for capaz".
Sempre de máscara no rosto no contacto com os mais idosos, Idalina Barata é uma funcionária que faz deste trabalho uma missão.
"É um bocado difícil, porque o concelho é realmente muito grande, mas acho que é acolhedor para o nosso coração ajudar quem mais precisa", enfatiza.