"É seguramente o momento mais difícil do país"

Um dia após a renovação do estado de emergência, agora com regras mais apertadas nomeadamente nas deslocações dos portugueses, o primeiro-ministro dá entrevista à Rádio Renascença.

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Melissa Lopes
03/04/2020 09:18 ‧ 03/04/2020 por Melissa Lopes

Política

Covid-19

António Costa disse assumiu esta sexta-feira, em entrevista à Rádio Renascença, que este "é seguramente o momento mais difícil do país" e que é preciso "confiança" para "todos juntos" ultrapassarmos esta fase. 

No arranque da entrevista, António Costa comentou que termos atingido, ontem, a barreira de um milhão de infetados no mundo pela Covid-19 é um cenário "extraordinário" que "só conhecíamos da ficção" e "da história". "E agora estamos a vivê-la" e "só todos juntos, coletivamente, podemos vencer" esta pandemia

Sendo "seguramente o momento mais difícil do país", o chefe do Executivo sublinhou que este é um momento "muito mais difícil" para as pessoas doentes, para as que perderam familiares, dos profissionais de saúde, para as forças de segurança, para as IPSS, etc, do que para si próprio. "Todos estão seguramente pior que eu", disse. 

Reafirmando que o país tem "estado a conseguir a cumprir o primeiro objetivo", o de não ter um aumento exponencial de infetados, António Costa insistiu que "não podemos podemos baixar a guarda e desistir", "nem achar que o pior já passou". "Todos os dias vamos ter mais pessoas infetadas, mais pessoas a falecer", disse, repetindo aquilo que tem dito: "Havemos de passar este túnel. Ainda não conseguimos ver, mas há luz". 

Admitindo que, no início do surto, "ninguém teve a noção efetiva" da capacidade de contágio pelo novo coronavírus, o primeiro-ministro afirmou que teve consciência de que Portugal não iria conseguir evitar a entrada da Covid-19, tendo em conta o mundo globalizado

Questionado sobre a primeira declaração de estado de emergência, em que o Presidente da República pareceu ser mais favorável, Costa explicou que o seu "receio", nessa fase, se prendia com o facto de se saber que a crise pandémica iria ser longa, tendo até em conta que, "no melhor das hipóteses", a vacina só chegará no verão do próximo ano. "Não bastava estar 15 dias em casa para que a pandemia desaparecesse (...) A questão era saber se era preciso dar esse passo do ponto de vista jurídico", sabendo-se que esta luta tem de ser encarada "como uma longuíssima maratona" e "não como uma estafeta". 

Sobre as medidas tomadas, o primeiro-ministro recordou que abril "é o mês de maior risco" por diversas razões. "Vão-se avolumando os casos, o cansaço que se vai acumulando, a dor das medidas adotadas", sublinhou,  referindo-se ainda ao período da Páscoa. "Pelas nossas tradições, [estes] são momentos de grande circulação e de grande convívio". Ora, tanto o convívio como a circulação "são os maiores inimigos da pandemia". 

António Costa sustentou que "devemos ser transparentes" nas medidas que são tomadas e que estas não são nenhum "castigo". "As pessoas não estão em prisão domiciliária, não podemos ver isto com uma punição", defendeu, sustentando que "as pessoas precisam de  tempo para organizarem a sua vida". 

Em relação às denúncias sobre abusos da parte de algumas empresas, o chefe do Executivo reiterou que "temos que procurar agir com absoluta responsabilidade ética" e  que neste "túnel de dois três meses que estamos a atravessar" é fundamental "proteger as empresas, os empregos e os rendimentos o mais possível". Todavia, alertou, "temos que agir de uma forma solidária, o Estado tem feito um esforço muito grande, mas tem de ser um esforço partilhado por todos". 

Recomeço das aulas?

Já sobre o período escolar, António Costa adiantou que a data limite, para o recomeço das aulas com ensino presencial, designadamente no secundário, é 4 de maio, para que o calendário escolar possa ser cumprido. A decisão será tomada no próximo dia 9 de abril, depois de reunir com epidemiologistas e partidos. 

Neste ponto, o primeiro-ministro elogiou "o esforço notável" de professores, educadores e alunos na adaptação aos estudos à distância. "Foi algo extraordinário que fizeram e que nos ajudou a dar um salto qualitativo" no sentido de se terminar o ano letivo "da forma mais justa e equitativa".

Antes de tomar a decisão sobre o recomeço das aulas, Costa irá reunir-se no dia 7 com epidemiologistas, e no dia seguinte com todos os partidos, não conseguindo adiantar, para já, nada sobre a matéria.  "Vamos vendo a evolução", disse. 

Interrogado sobre o setor social, o primeiro-ministro referiu que "esta crise pandémica põe à prova tudo e todos" e que os lares, por albergarem as pessoas de maior risco, seria expectável que a incidência seria "sempre muito superior à da média da sociedade". 

"Não quero ser injusto com misericórdias e IPSS que gerem os lares, tenho a certeza que fizeram o melhor possível", declarou ainda Costa, não querendo "apontar o dedo" por eventuais falhas na antecipação das medidas de contenção. "O que importa é fazer um grande esforço de análise, de testes e de formação", realçou. 

Questionado sobre como tem sido a relação com os antigos parceiros de Geringonça durante esta fase, Costa respondeu: "Tenho-me dado muito bem". Mas preferiu sublinhar o todo: "O conjunto dos partidos tem sido exemplar na forma como tem sabido agir", sem prescindir das diferenças. Segundo o primeiro-ministro, os partidos têm sabido agir de uma forma solidária e unida. 

Essa união tem-se verificado mais com o PSD? "Tem havido um consenso generalizado (...) e uma convergência e unidade nacional", reforçou. 

União Europeia

A União Europeia foi outro dos temas abordados na entrevista. que a Europa não desista de si própria e aqui Costa foi perentório: "Tem de ser possível a Europa conseguir responder". Admitindo que "houve um momento tenso" aquando da polémica com o ministro  das finanças holandês, o primeiro-ministro reconheceu que esta semana  "foram dados passos em frente", considerando que foram feitas "propostas importantes". 

"Não é aquilo que todos consideramos necessário, mas são avanços positivos", disse, esperando que a reunião do Eurogrupo na próxima terça-feira "concretize novos passos". 

Interrogado sobre as 'eurobonds', o primeiro-ministro defendeu que "não temos de nos agarrar como se fosse um fetiche mágico a nomes", considerando que o fundamental é a UE ter "capacidade de resposta comum e solidária".  "Se é com coronabonds, com eurobonds, com emissão de dívida ou apoios diretos com base no Orçamento da União Europeia já são opções técnicas", frisou, sustentando que "o cerne da questão está em saber se a Europa prova que é capaz de enfrentar o desafio em conjunto". Há muitas formas de o fazer (...) eu não me agarro a nenhuma". 

E deixou mais um aviso: "Seria absolutamente irresponsável deixar abaixo o que construímos em 70 anos", sendo imperioso nesta fase "reforçar o espírito da união e não nos deixarmos contaminar pelo vírus da desunião". 

António Costa teve ainda a oportunidade de referir que a maior lição que podemos tirar desta pandemia é que "não podemos estar tão dependentes da China" e que a Europa, e Portugal, deve voltar a produzir interiormente aquilo que importa daquele país.  

 

 

 

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