"news_bold">"Se alguém com uma dor no peito, com uma suspeita de enfarte agudo do miocárdio, ou um colega nosso que tenha um doente grave que ache que tem que ter um acompanhamento rápido, urgente e imediato nós temos capacidade para dar resposta", fazendo "um rastreio inicial e utilizando os nossos recursos", disse em entrevista à agência Lusa o diretor do Serviço de Cardiologia do Hospital de Santa Marta, que integra o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (CHULC).
Rui Cruz Ferreira sublinhou que, "sendo um hospital 'covid free' e tendo uma atividade que tem um impacto também em termos de mortalidade muito grande, porque não é só o covid que mata", o Santa Marta procura "ter condições de funcionamento com alguma tranquilidade" e tem conseguido isso.
"Nós provavelmente temos algum privilégio com isso, mas procuramos também dar uma resposta mais eficaz, nem todos os estabelecimentos de saúde estão naquele pandemónio que vemos sobretudo em imagens de Espanha e Itália", adiantou.
Neste momento, frisou, a situação é "um bocadinho diferente". "Temos alguma tranquilidade e temos capacidade de resposta", adiantou.
"Essa tranquilidade é fundamental porque mesmo num cenário de potencial agravamento há ainda alguma margem e é crucial dar essa sensação porque é importante para todos", sobretudo para os doentes.
Sobre o que mudou no hospital desde o início da pandemia, Rui Cruz Ferreira disse que "o ponto mais importante" foi a redução da atividade desprogramada e o fim da atividade programada no dia 16 de março.
"Tínhamos cerca de 100 consultas por dia e entre 10 a 15 internamentos para realização de exames que foram desmarcados", elucidou.
O hospital passou a fazer essencialmente urgências, porque "é preciso dar resposta às situações instáveis de enfarte agudo do miocárdio, de insuficiência cardíaca" e outras situações que vão aparecendo.
Como grande parte da atividade do hospital foi desmarcada, o hospital ficou com uma reserva que vai utilizar para receber especialidades do Hospital Curry Cabral, que passa só a receber doentes infetados com o novo coronavírus (SARS-CoV-2), que provoca a doença covid-19.
Segundo o especialista, o serviço de cardiologia vai acomodar a radiologia de intervenção que funcionava no Curry Cabral e os serviços de medicina vão acomodar a unidade de transplante hepato-bilio-pancreático.
Relativamente ao que mudou nas práticas diárias do hospital, Cruz Ferreira disse que foram adotadas novas metodologias de desinfeção e de estabilização das salas, nomeadamente das hemodinâmicas.
Todos os doentes internados são testados à covid-19 para evitar que algum doente assintomático possa contagiar outros, sendo realizados diariamente 10 a 15 testes.
Para Cruz Ferreira, a utilização geral de máscaras e de equipamentos de proteção individual para todos os casos suspeitos é fundamental para conter a propagação do vírus.
"Tenho cerca 25 médicos e 60 enfermeiros e desde o início da crise tenho infeções zero", sublinhou.
Os doentes são contactados por telefone ou por telemedicina para rastrear algum agravamento que possa surgir da doença e tentar ressalvar situações mais urgentes em que é preciso atuar mesmo neste contexto.
Isto porque os médicos receiam que os doentes não se desloquem ao hospital com receio de contrair a covid-19, o que se verificou nos primeiros dias da pandemia.
"Muita gente que, apesar de nós darmos indicação para virem, não apareceu por receio das estruturas hospitalares o que é compreensível, uma vez que os hospitais são sítios de potencial contágio efetivo", disse Cruz Ferreira, contando que houve pessoas que viram a sua situação a agravar-se.
Para evitar consequências mais gravosas, o hospital disponibilizou linhas telefónicas específicas para os doentes que são atendidas por profissionais de saúde.
"Temos doentes que a menor coisa pode gerar uma descompensação e criar uma situação potencialmente fatal. Não tenho dúvidas quanto a isso", comentou.