A sequenciação dos três genomas já permitiu aos cientistas concluírem que a taxa estimada a que o SARS-Cov-2 adquire mutações genéticas (alterações no material genético) é de 25 mutações por ano.
Em declarações à Lusa, a investigadora Isabel Gordo, que lidera o laboratório de Biologia Evolutiva do IGC, salientou que "é um bom sinal", atendendo a que o vírus da gripe sazonal adquire 50 mutações por ano, obrigando à produção de novas vacinas todos os anos.
É numa vacina que cientistas e farmacêuticas estão a trabalhar para prevenir a covid-19.
Nos próximos três meses, o IGC espera sequenciar cerca de 2.000 genomas do novo coronavírus, na origem da doença respiratória aguda covid-19, a partir de amostras recolhidas de doentes dos hospitais Fernando Fonseca, na Amadora, São Francisco Xavier e Egas Moniz, ambos em Lisboa.
Os três primeiros genomas do SARS-Cov-2 em circulação em Portugal foram sequenciados em seis horas graças a uma tecnologia de sequenciação mais rápida, tendo sido comparados com outros genomas do coronavírus.
"Ao todo, há 4.279 genomas sequenciados a nível internacional", refere o IGC em comunicado.
Os genomas sequenciados pelo IGC pertencem a dois dos 10 grupos de SARS-Cov-2 identificados com "características moleculares semelhantes" e, portanto, com "uma relação genética de maior proximidade", segundo Isabel Gordo.
"Até à data, não há nenhuma indicação de que os genomas dos vírus em Portugal sigam um padrão diferente do observado no resto do mundo. Aliás, a acumulação de mutações no tempo é o esperado numa situação em que um novo vírus se espalha numa população de hospedeiros suscetíveis", afirma a cientista, citada pelo comunicado do IGC.
À Lusa, Isabel Gordo disse que a sequenciação dos genomas do coronavírus será importante para identificar a mutação que ocorre no gene que codifica uma proteína à superfície do SARS-Cov-2 (a proteína da espícula) que se liga a uma enzima (substância proteica) da superfície das células humanas, a ACE2, que é a porta de entrada do vírus no organismo.
De acordo com Isabel Gordo, ao se perceber a alteração que ocorre no gene que codifica a proteína da espícula do novo coronavírus, será possível compreender como essa mutação influencia o funcionamento do SARS-Cov-2 e este infeta as pessoas.
A descodificação deste mecanismo é, para a investigadora, importante para a produção de uma vacina ou de um tratamento antiviral eficaz, que bloqueie esta proteína.
Depois do trabalho da sequenciação de genomas do SARS-Cov-2, os investigadores do IGC irão infetar linhas celulares produzidas em laboratório para verificar se o coronavírus se comporta da mesma maneira ou se há alterações na proteína-chave.
Posteriormente, usando ratinhos como modelo, vão estudar, de forma controlada, como o SARS-Cov-2 se comporta num organismo vivo e analisar a resposta do sistema imunitário, que é ainda uma incógnita.
Citado no mesmo comunicado, o coordenador da Unidade Genómica do IGC, Ricardo Leite, realça que a sequenciação dos genomas do coronavírus permite monitorizar a cadeia de propagação desta família de vírus.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 1,3 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 75 mil.
Dos casos de infeção, cerca de 290 mil são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde a declará-lo como uma pandemia.
Portugal, em estado de emergência até 17 de abril, regista 345 mortes e 12.442 infeções, segundo o balanço mais recente da Direção-Geral da Saúde.
Das pessoas infetadas, 1.180 estão internadas, 271 das quais em unidades de cuidados intensivos, havendo 184 doentes que recuperaram desde que a doença foi confirmada no país, em 2 de março.