Luís Pitarma é, por esta altura, um nome já bem conhecido por cá. O enfermeiro português de 29 anos que cuidou de Boris Johnson, enquanto este esteve nos cuidados intensivos devido à Covid-19, confessa agora ter-se sentido nervoso perante a "responsabilidade que tinha em mãos".
Tudo indicava tratar-se de mais uma jornada de trabalho na luta contra a pandemia de Covid-19, mas enquanto vestia a bata para começar o turno, Luís percebeu que teria uma responsabilidade acrescida nessa noite: teria ao seu cuidado o primeiro-ministro britânico. "Fui escolhido para cuidar dele porque estavam confiantes de que lidaria bem com a situação".
Numa nota partilhada pelo NHS (serviço de saúde britânico), Luís confessou-se nervoso e sem saber até como tratar a chefe de governo. "Senti-me bastante nervoso no início. A responsabilidade era esmagadora. Não sabia como me dirigir a ele. Devo tratá-lo por Boris, Sr. Johnson ou primeiro-ministro?".
Mas essa incerteza rapidamente se dissipou com a primeira troca de palavras entre ambos, em que o governante deixou de lado os formalismos. Quando Luís o questionou como gostaria de ser tratado, o líder britânico pediu para ser chamado pelo nome próprio. "Isso deixou-me menos nervoso porque ele retirou qualquer formalidade. Ele só queria ser cuidado como qualquer outra pessoa", recordou.
O enfermeiro português disse ainda ter ficado "comovido" quando o primeiro-ministro britânico agradeceu os cuidados prestados durante a hospitalização. "Não tenho palavras para descrever como me senti quando vi [o vídeo]. Deixou-me bastante comovido. Fiquei realmente surpreendido, mas muito feliz. Eu nunca pensei que teria um destaque assim. A mensagem do primeiro-ministro realmente veio do coração. Foi a mensagem mais honesta que eu já vi". O enfermeiro espera ainda poder voltar a ver Boris Johnson assim que este estiver totalmente recuperado.
Pouco depois de receber alta do hospital, onde esteve internado uma semana devido a um agravamento dos sintomas, incluindo três noites nos cuidados intensivos, Boris Johnson publicou um vídeo na rede social Twitter a agradecer aos vários profissionais de saúde que considera lhe terem salvo a vida, destacando o português.
"E espero que não se importem se eu mencionar em particular dois enfermeiros que ficaram ao meu lado durante 48 horas quando as coisas poderiam ter dado para o torto. São a Jenny da Nova Zelândia, Invercargill, na Ilha Sul, para ser exato, e Luís, de Portugal, perto do Porto", disse o chefe do governo. Pitarma, que passou as três noites junto do político enquanto esteve internado nos cuidados intensivos, disse ter ficado "muito orgulhoso", não só por si, "mas por toda a equipa".
Horas depois, o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, entrou em contacto direto por telefone com o enfermeiro para expressar o agradecimento por ter cuidado do primeiro-ministro britânico e participado assim no combate à pandemia da Covid-19. "Foi surreal, mas fiquei muito orgulhoso de receber o telefonema dele. Ele mostrou-se agradecido pelo que fiz, por ser enfermeiro e por representar o país", revelou o enfermeiro, que foi convidado para visitar o Palácio de Belém quando estiver em Portugal.
"Ser agradecido pelo primeiro-ministro e pelo Presidente português nas mesmas horas foi incrível, eu realmente não podia acreditar no que estava a acontecer. Aparentemente, eu sou uma celebridade em Portugal agora! É ótimo conseguir mais reconhecimento para os enfermeiros de lá", vincou.
Natural de Aveiro, Luís Pitarma formou-se na Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, tendo realizado um ano de Erasmus na universidade de Lathi, na Finlândia.
Em 2014, começou a trabalhar em Londres, onde passou por quatro unidades de saúde antes de ser recrutado para o grupo hospitalar de Guy e St. Thomas, onde é enfermeiro especializado em cuidados intensivos, em particular ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorporal), segundo informação do próprio nas redes sociais.
Johnson encontra-se atualmente em convalescença na sua residência de campo em Chequers Court, nos arredores de Londres, desde que recebeu alta, em 12 de abril, do hospital de St. Thomas.
Foi hospitalizado em 5 de abril, de acordo com um comunicado, "por precaução" para fazer testes devido a "sintomas persistentes" da doença, com a qual foi diagnosticado em 26 de março, tendo sido revelado depois que necessitou de apoio respiratório com oxigénio.
Em 6 de abril, passou para a unidade de cuidados intensivos, mas o seu gabinete garante que não foi necessário o uso de ventilador, e regressou à enfermaria normal em 9 de abril.