Há mais de um mês que Andreia Ribeiro, de 32 anos, está longe da agitação que, por estes dias, subsiste na "área tampão" criada no serviço de Pediatria daquele centro hospitalar.
Ainda que longe da agitação onde todos os casos suspeitos são testados e, se derem positivo, ficam internados, é Andreia Ribeiro que monitoriza diariamente o estado de saúde dos que por lá passam e, por sorte, não ficam.
Há seis anos que é médica pediatra no hospital de Gaia e, desde então até estes novos tempos, nunca se tinha visto privada de exercer a profissão que pressupõe contacto direto e próximo com as crianças.
"Foi uma fase de adaptação, de tentar perceber como ajustar e gerir a melhor maneira para chegar aos doentes todos. Em teletrabalho é tudo muito diferente", confessou à agência Lusa.
Substituiu o estetoscópio pelo telefone e se inicialmente o usava das 08:00 às 20:00, porque a gestão era "extremamente difícil", agora fá-lo das 08:30 às 18:30. Inclusive aos fins de semana.
É a esta pediatra que cabe a árdua missão de, no dia seguinte à realização do teste de diagnóstico à covid-19, ligar aos pais das crianças e comunicar o resultado.
A partir desse momento, dê o resultado positivo ou negativo, contacta diariamente para fazer uma avaliação do estado clínico da criança.
Os pais também têm o seu número. No fundo, para "sentirem que está alguém por perto, caso tenham alguma dúvida ou se houver um agravamento do estado da criança".
Através desta nova ferramenta clínica -- o telefone --, a médica tenta que os casos positivos que acompanha, neste momento 13, não recorram ao serviço de urgência sem "nenhum motivo aparente".
No entanto, há uma regra de ouro nesta especialidade médica: "quando os pais não ficam tranquilizados com a resposta, as crianças são avaliadas fisicamente".
Nestes casos, é também Andreia Ribeiro que avisa os colegas do serviço de urgência que a criança precisa de ser observada.
Também em relação aos casos negativos, que são 20 neste momento, esta profissional de saúde serve de "amparo", monitorizando-os até ficarem sem os sintomas que outrora os levaram às urgências.
Acalmar e tranquilizar as dúvidas dos pais "está a ser mais fácil do que pensava", desabafou à Lusa.
"A maior parte das dúvidas são fáceis de tirar por telefone e, na verdade, os pais são quem melhor conhece as crianças, portanto, tem noção de quais são os sinais de agravamento", afirmou.
A médica era a única responsável por esta missão, mas, por já não ter "mãos a medir" com tanto trabalho, juntaram-se recentemente a ela mais quatro colegas.
Diana Moreira, de 39 anos, é uma delas. Não trabalha só a partir de casa, uma vez que está também responsável pelo internamento das crianças na "área tampão". Mas, no tempo livre, auxilia Andreia Ribeiro.
Médica pediatra no hospital de Gaia desde 2007, Diana Moreira diz estar a adaptar-se a esta "nova realidade".
"Estamos a adaptar-nos dia-a-dia. Cada dia que passa vamos sentindo-nos mais confiantes, vamos melhorando e acho que temos de ver sempre o lado positivo, sem nunca deixar que as nossas crianças corram perigo por não estarem a ser vigiadas de forma mais próxima", salientou.
Ainda que predomine o otimismo, esta médica, à semelhança de Andreia Ribeiro, sabe que a gestão da pandemia é "emocionalmente muito difícil", por isso, resta-lhes a esperança de enfrentar um dia de cada vez, ansiando o regresso "à normalidade".
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Portugal contabiliza 854 mortos associados à covid-19 em 22.797 casos confirmados de infeção, segundo o boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia.