Os diários londrinos Guardian e The Times contam que tudo começou quando Chris Sainty, o embaixador de 53 anos que assumiu a representação do Reino Unido em Lisboa em 2018, publicou online imagens de si mesmo a tocar no piano músicas que variavam entre 'Nessun Dorma' ('Ninguém dorme', em italiano, uma famosa ária do último ato da ópera Turandot) e 'You'll Never Walk Alone' (Nunca andarás sozinho', em inglês), canção composta por Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II para o musical de 1945 Carousel. Músicas que o embaixador dedicou aos médicos e enfermeiros do SNS e NHS.
Mas, acrescentam, foi a sua interpretação de canções associadas ao 25 de Abril que o colocou de facto sob os holofotes em Portugal.
O Times destaca como os portugueses expressaram a sua gratidão online.
"Obrigado pela emoção que me transmitiu", disse um, referindo-se às músicas portuguesas, enquanto um outro agradeceu, defendendo que "o respeito e a consideração elevam as pessoas e os Estados".
Sainty foi ensinado a tocar piano quando criança por Jean, mãe de Andrew Lloyd Webber (um dos compositores teatrais mais famosos de sempre), mas só voltou a tocar durante o confinamento como "estratégia para se tentar manter são".
Depois destes primeiros vídeos terem sido vistos por dezenas de milhares de pessoas, o embaixador publicou um outro onde tocava uma versão da música que a cantora inglesa Vera Lynn tornou famosa na Segunda Guerra Mundial: "We'll meet again' (Voltaremos e ver-nos, em inglês), ganhando mais aplausos online.
I'm not used to all this musical attention. I think I will go and hide at the end of the garden! But on a serious note, I would like to recall that this is all in support of NHS and SNS medical staff, carers and key workers. Thank you so much. https://t.co/XVCg0jCuHQ
— Chris Sainty (@ChrisSaintyFCO) April 28, 2020
Para Chris Sainty, o seu sucesso foi uma grande surpresa.
"Tudo começou como uma diversão, mas com uma mensagem séria de apoio e solidariedade às equipas médicas e prestadores de cuidados, mas a reação foi imensa e completamente inesperada", disse em declarações ao The Times.
Num artigo de opinião publicado no jornal Público, Chris Saint refere que a pandemia obrigou muitos profissionais a "reinventar os métodos de trabalho" e que o fez dar consigo mesmo, um dia, a relembrar "músicas com significado especial" para si e com "particular relevância em tempos de crise".
Com o Twitter cheio de mensagens de reconhecimento de muitos dos 400.000 emigrantes portugueses no Reino Unido, o embaixador explicou naquela rede social que as relações anglo-portuguesas começaram há mais de seis séculos, quando o rei João I se casou com Filipa de Lencastre em 1387, e teve "vários pontos altos, como o histórico Tratado do Vinho do Porto de 1703 ou a intervenção inglesa na Guerra Peninsular do século XIX".
Além disso, acrescentou, "vale a pena lembrar que um dos enfermeiros que estavam ao lado da cama do [primeiro-ministro britânico] Boris Johnson [no seu recente internamento hospitalar por ter sido infetado com covid-19] foi Luís Pitarma, de Aveiro".