"Não me parece viável e no cenário mais provável em que teremos de lidar com esta epidemia durante 12 ou 18 meses, até termos algum tipo de emancipação, que estas pessoas possam continuar a trabalhar nestas condições", disse Alexandre Lourenço à agência Lusa.
O presidente da APAH alertou para a necessidade de existir um plano de formação para treinar profissionais e "fazer rotações" de atividade nos cuidados intensivos e nas enfermarias gerais, bem como "encontrar novos modelos de organização de trabalho nestas áreas".
"Particularmente, temos e vamos ter uma grande dificuldade na área dos cuidados intensivos de médicos, enfermeiros e assistentes", notou, advertindo que é preciso manter "recursos suficientes" para responder a "aumentos de pico" de procura.
Por outro lado, estas novas equipas "vão fazer falta à prestação de cuidados gerais", um modelo de resposta que também é preciso garantir.
Há hospitais que vão ter "uma resposta dual" em internamento para doentes com e sem covid-19 e hospitais destinados apenas a pacientes com outras patologias, que terão de manter a capacidade de triagem do serviço de urgência, para identificar suspeitos de infeção pelo novo coronavírus e encaminhá-los para hospitais preparados.
Os hospitais "não covid" precisam de ter equipamentos de proteção individual para doentes, profissionais e para "potenciais visitas" e um novo modelo de organização que passa por consultas com hora marcada para evitar salas de espera cheias, pelo desenvolvimento da telemedicina e dos centros de responsabilidade integrada e a integração dos cuidados de saúde primários com a área social.
"Há aqui um grande trabalho, e que é uma aprendizagem resultante do que já passámos, de planeamento do Ministério da Saúde para (ter uma) resposta que não fará sentido que seja deixada ao arbítrio das instituições per si", sublinhou.
Na prática, Alexandre Lourenço defendeu que deve ser estabelecida "uma rede hierárquica e organizada para prestar cuidados à população porque os tempos futuros vão ser muito exigentes".
"Parece-me que respondemos bem, mas é importante reconhecer que é necessário mais trabalho em rede, mais articulação e mais coordenação entre as várias instituições. É importante reativar o sistema de saúde, mas com garantias de controlo de infeção na comunidade e que os hospitais tenham meios e instrumentos, não só de recursos humanos", para garantir que os hospitais não sejam focos de infeção como aconteceu no norte de Itália, afirmou.
É igualmente necessário "criar incentivos para os profissionais de saúde para recuperar um mês e meio de paralisação generalizada" e dar condições a todas as instituições para "uma resposta capaz" às necessidades da população.
"Há efeitos desta paralisação sobre a saúde da população, não só a nível dos hospitais, mas também a nível dos centros de saúde que pode ter consequências dramáticas", advertiu.
A contratação de mais profissionais também "será inevitável", porque "não é viável" voltar a ter "um SNS a responder aos cuidados gerais sem ter mais recursos", mas "o grande drama" será nas áreas, por exemplo, da anestesiologia porque esses profissionais estão a ser necessários para manter a resposta covid.
É preciso mais especialistas nestas áreas, porque se não "vamos ter um grave problema para garantir a atividade cirúrgica" devido ao atraso provocado pela paralisação, que levou a uma redução da atividade eletiva na ordem dos 75%, concluiu.