As palavras do primeiro-ministro sobre a realização da final da Champions League em Lisboa, onde nos últimos tempos surgiram vários surtos de Covid-19, estão a causar polémica. No entender do primeiro-ministro, recorde-se, a escolha de Portugal para acolher o evento "é também um prémio merecido aos profissionais de saúde", que demonstraram que Portugal tem um Serviço Nacional de Saúde (SNS) "robusto para responder a qualquer eventualidade".
Mas, ao contrário do que disse António Costa, alguns profissionais de saúde não veem a realização da competição em Portugal como “um prémio”.
O enfermeiro do Hospital Curry Cabral Nuno Moreira reagiu nas redes sociais e diz que as palavras de António Costa são uma “afronta” aos profissionais de saúde e a todos os portugueses.
Nuno Moreira, que desde que a pandemia chegou a Portugal tem dado o seu testemunho como ‘guerrilheiro’ da linha da frente no combate à Covid-19 através das redes sociais, começou por contar que, esta quinta-feira, esteve de folga, “algo que não aconteceu muitas vezes nos últimos meses”, e que tudo indicava que ia ter um dia bom. Contudo, rapidamente “a angústia e revolta” tomaram-lhe o dia.
Primeiro, porque foi confrontado com a possibilidade de estar contagiado, algo que “felizmente não se confirmou”. Depois, porque assistiu ao momento em que o primeiro-ministro anunciava a realização da final da Champions League em Portugal.
“A revolta atiçada pelo sentimento de injustiça, ao ver o primeiro-ministro António Costa a ter a ousadia de verbalizar que a a realização da final da Champions League em Portugal, mais precisamente em Lisboa, é um prémio aos profissionais de saúde. Ainda que ‘inocentemente’ tentasse prestar uma homenagem simbólica, ainda que o tenha dito em sentido figurado e com toda a retórica política possível e imaginaria, é uma afronta. Uma afronta a todos, a todos os profissionais de saúde, mas também a todos os portugueses, ao tentar que numa espécie de ato de magia, se consiga convencer um país, um Continente, uma Europa, de que tudo está bem. Não está tudo bem”, atirou o enfermeiro na sua página de Facebook.
Apesar da revolta, Nuno garante que “mais uma vez” os profissionais de saúde estarão presentes para “fazer tudo o que está ao alcance, para que tudo fique bem”. “Contem connosco, mas não como nós podemos contar com o Governo de Portugal... Nem sequer para nos dignificar condignamente. É necessário mais, é importante que seja bastante mais, pela saúde de todos nós, nunca será demais. Cuidem-se e protejam-se!”, conclui o profissional de saúde.