"Parto com o estado de espírito de que eu pude ver no terreno que a forma como foi enfrentado o processo pandémico justifica os resultados obtidos", afirmou o chefe de Estado, em Câmara de Lobos, onde se deslocou no âmbito de uma visita de menos de 24 horas à região autónoma.
O arquipélago da Madeira teve até agora 93 casos confirmados de covid-19, dos quais apenas três estão ativos, e não registou até hoje qualquer óbito devido ao novo coronavírus.
Na freguesia de Câmara de Lobos foi instalada uma cerca sanitária entre 19 de abril e 03 de maio, na sequência de uma cadeia de transmissão de covid-19 identificada no bairro social Nova Cidade.
Marcelo Rebelo de Sousa elogiou o desempenho da população durante esse período e disse que será "portador" de tudo o que testemunhou na Madeira, vincando que o papel do Presidente da República é o de ter um "exercício de funções" que permita "potenciar o diálogo e as pontes", bem como a "compreensão daquilo que, por vezes, a distância torna menos compreensível".
O chefe de Estado falava numa receção na Câmara Municipal de Câmara de Lobos, após a intervenção do presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, que criticou a falta de solidariedade do Governo da República desde o início da crise pandémica e solicitou que Marcelo Rebelo de Sousa seja o interlocutor da região junto das instâncias nacionais.
"O Governo da Região Autónoma da Madeira precisa de um interlocutor junto do Estado e esse interlocutor tem de ser vossa excelência", disse.
Miguel Albuquerque, que lidera o executivo de coligação PSD/CDS-PP, disse que a região mobilizou "todos os recursos" para enfrentar a crise pandémica, mas, apesar do "sucesso" das medidas, não obteve nenhuma ajuda do Estado.
"Estivemos três meses há espera de uma resposta e a única resposta que tivemos foi uma autorização, como se fosse um favor, no Orçamento de Estado [Suplementar] para, com os nossos recursos, contrairmos um empréstimo [de 340 milhões de euros], que irá ser pago com os nossos recursos", explicou.
Albuquerque disse que a região autónoma não admite continuar a ser discriminada pelo Governo da República, liderado pelo socialista António Costa.
"Nós iremos continuar a nossa luta, se for preciso, e de uma forma bastante contundente para fazer ouvir a nossa voz", reforçou, vincando que existe uma atitude "inqualificável" e "crescente" de centralismo dos sucessivos governos nacionais, que "põe em causa a própria estrutura constitucional".
O chefe do executivo madeirense acusou ainda o Estado de "denegar responsabilidades" relativamente aos seus territórios autónomos.
"Vamos chegar a um ponto em que vão ser criadas tensões que podem levar a uma dialética que não interessa a ninguém", alertou, evocando a Revolta da Madeira, em 1931, contra o Estado, em consequência do tratamento discriminatório em relação ao arquipélago.
Miguel Albuquerque lamentou que o "portuguesismo" da Madeira seja "posto à prova" todos os dias e apelou Marcelo Rebelo de Sousa para ser o interlocutor da região.
"Contamos consigo, não num sentido paternalista. A Madeira não precisa de ter mais apoio que os outros, a Madeira não precisa de tutores, a Madeira não precisa de favores. A Madeira precisa é que o Estado assuma as suas responsabilidades no quadro constitucional", reforçou.
O presidente da República realçou, por seu lado, que há uma "ideia de conjunto" na região autónoma para fazer face à crise pandémica.
"Eu pude verificar no terreno que há toda a vontade para manter esses resultados obtidos custe o que custar e melhorá-los à medida que os milhares e milhares de turistas vão chegando e ainda bem que vão chegando", disse, sublinhando que também ficou a saber quais são os "domínios" em que é "importante" a cooperação entre a região e a República.
"Eu parto daqui com o quadro completo da situação", garantiu Marcelo Rebelo de Sousa, que, após o almoço, fez uma breve visita ao bairro Nova Cidade.