Paula Bochecha Lebre, a mãe de Beatriz Lebre, fez um breve comentário, numa publicação feita pelo humorista Nuno Markl, no Instagram, onde apontou uma similaridade nas reações aos crimes violentos, algo que sentiu com a morte da sua filha e que faz equivaler às reações à morte de Bruno Candé.
"Neste país não racista e não machista tem que se encontrar qualquer falha, qualquer imperfeição, qualquer pecado no comportamento da vítima, que tenha originado o seu próprio homicídio por um agressor", começa por escrever Paula Lebre.
"Neste Portugal não racista e não machista demasiadas vezes há pena de morte das vítimas já assassinadas. Foi o que aconteceu com a minha filha, Beatriz Lebre, nas primeiras notícias, antes de a conhecerem", terminou, recordando a morte da jovem de 23 anos, às mãos de um colega, Rúben Couto, a 22 de maio.
Paula Lebre fez este comentário numa publicação feita por Nuno Markl sobre a morte de Bruno Candé, este sábado, assassinado a tiro na via pública por um "idoso de 80 anos de idade". Markl escreveu sobre a morte do ator de 39 anos como um crime de ódio, criticando quem procura encontrar "justificações".
Horas depois, o próprio humorista partilhou uma captura de ecrã do depoimento de Paula Lebre, descrevendo uma pessoa que "sabe do que fala". "Há gente demais, neste país, a achar que se alguém foi morto é porque, se calhar, também teve culpas no cartório. Muita gente com mais compreensão e empatia para com o agressor do que para com a vítima", escreveu.
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A vítima, identificada como Bruno Candé Marques, era ator da companhia de teatro Casa Conveniente, e morreu este sábado após ter sido "baleado em várias zonas do corpo" em plena luz do dia, na avenida de Moscavide, no concelho de Loures, distrito de Lisboa. Deixa três filhos menores de 6, 5 e 3 anos de idade.
Os populares indicaram, às televisões, que havia um desentendimento por causa de uma cadela que Bruno usava como guia desde que esteve envolvido num acidente que o deixou com sequelas. De acordo com o testemunhos, a família da vítima queixava-se há dias de insultos racistas por parte do agressor, que procurava Bruno nos cafés da zona. O animal, que estava com o dono, está desaparecido desde o homicídio.
O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, comentou hoje o caso, de forma breve, indicando apenas que as autoridades judiciárias estão a investigar o homicídio, "crime que vivamente repudiamos".