Depois dos problemas informáticos no Tribunal de São João Novo, no Porto, que impediram o começo da nona sessão do julgamento na parte da manhã, as audições retomaram com normalidade na parte da tarde, com vista a ouvir os testemunhos que transitaram, por adiamento, de 25 de março.
"Nós não batemos palmas [ao discurso do Pinto da Costa] e Fernando Madureira dirigiu-se ao meu grupo e disse que estávamos a dividir o clube", testemunhou José Miguel, sócio portista há 25 anos, acrescentando também injúrias que alega terem sido proferidas pelo arguido, responsabilizando-o como incitador dos incidentes.
Relatou também a inibição da utilização de telemóveis para filmagens no Dragão Arena por vários indivíduos, que deduziu serem da claque Super Dragões, e, em particular, Sandra Madureira, mulher de Fernando e outra das arguidas do processo.
Na chegada ao pavilhão, o grupo com quem compareceu, e que continha "vários amigos de André Villas-Boas", prontamente mudou de bancada, tendo sentido a necessidade de mudar de lugares uma segunda vez, quando terão começado episódios de violência física.
Por sua vez, Afonso Calheiros, outro associado presente na assembleia geral (AG), em longo depoimento que visava alguns dos arguidos, disse ter ouvido Vítor 'Catão' dizer "que ia matar Villas-Boas e as pessoas que o apoiavam".
"Houve uma primeira agressão pelo 'Aleixo' filho a um senhor que deveria ter 60 anos", depôs.
Contudo, a defesa de Vítor 'Catão' requereu que fosse extraída uma certidão por falsas declarações contra o depoente, uma vez que este disse ter visto o arguido a "dirigir-se à comunicação social", o que teria acontecido por voltas da 20:00, tendo o associado chegado apenas às 21:00, um pedido acedido pela presidente do coletivo de juízes.
Várias prestadoras de serviços ao FC Porto, que trabalharam na credenciação de acesso à AG, descreveram, à semelhança de depoimentos anteriores, tentativas de irregularidades na obtenção do acesso.
"Vários sócios tentaram entrar com cartões que não eram deles, ou de filhos menores. Eram pessoas não podiam entrar. Em vez de saírem dali, quando negávamos a entrada, ficavam a argumentar e acumulavam-se", assumiu Liliana Costa, que viu Sandra Madureira a contestar a necessidade de apresentação dos cartões de cidadão e de sócio.
O julgamento leva já dezenas de depoimentos de testemunhas em atraso, gerando um complexo reagendamento de diligências. A próxima sessão está marcada para a próxima segunda-feira, estando previstas as audições que transitaram, por adiamento, de 01 de abril.
Os 12 arguidos da Operação Pretoriano, entre os quais o antigo líder dos Super Dragões Fernando Madureira, começaram em 17 de março a responder por 31 crimes no Tribunal de São João Novo, no Porto, sob forte aparato policial nas imediações.
Em causa estão 19 crimes de coação e ameaça agravada, sete de ofensa à integridade física no âmbito de espetáculo desportivo, um de instigação pública a um crime, outro de arremesso de objetos ou produtos líquidos e ainda três de atentado à liberdade de informação, em torno de uma AG do FC Porto, em novembro de 2023.
Entre a dúzia de arguidos, Fernando Madureira é o único em prisão preventiva, a medida de coação mais forte, enquanto os restantes foram sendo libertados em diferentes fases.
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