Depois da denúncia de comida colocada no lixo numa loja Pingo Doce em Lisboa, Hugo Breda e João Relógio fizeram uma "segunda ronda" para perceber se o desperdício alimentar é um problema sistémico ou se, pelo contrário, a situação denunciada da primeira vez foi um mero acaso.
Mas não foi. Desta vez foi numa loja Auchan também em Lisboa. Precisaram apenas de 20 minutos para encontrar o que se pode ver no vídeo abaixo: comida em bom estado, sobretudo frutas e legumes, ainda que com a data de validade a aproximar-se do fim.
"Infelizmente encontrámos (mais comida) e gostava que as grandes superfícies nos explicassem como é que isto pode acontecer", começa por dizer Hugo Breda no novo vídeo.
Em resposta ao Notícias ao Minuto, a cadeia de supermercados sublinha que o desperdício alimentar "é uma das grandes preocupações da distribuição, que muito tem feito para se tornar cada vez mais eficiente, sobretudo motivada por razões sociais, mas também económicas, já que se trata de produto que será pago ao fornecedor sem ser vendido", sendo, por isso, a redução do desperdício "um compromisso" da Auchan Retail Portugal.
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Além da recente parceria com o projeto To Good To Go, a Auchan refere que conta ainda com várias parcerias com diferentes empresas e associações – por exemplo a Refood e a Dar i Acordar – que servem de intermediários com as associações, sendo facilitadores nestas doações de produtos em aproximação de fim de validade. "Em 2019, doámos 2,4 mil toneladas de produtos alimentares, num total de mais de 2,5 milhões de euros. Estas doações apoiaram cerca de 80 IPSS e 30 associações de apoio a animais", lê-se na resposta.
Contudo, neste contexto específico de pandemia, a Auchan verifica que, "em situações pontuais, algumas das IPSS com que temos uma parceria estão a ter dificuldades em recolher os alimentos". "Nestes casos específicos, estamos a reorganizarmo-nos no sentido de garantirmos que temos sempre associações disponíveis para a doação", assegura.
Na mesma nota, a cadeia de supermercados explica que o processo de doação de alimentos é "bastante complexo" e burocrático.
"Por um lado, porque implica ter recursos humanos disponíveis para tal. No caso das empresas, têm sempre que garantir a rastreabilidade dos alimentos, um processo bastante burocrático e moroso. No caso das associações, terão que ter recursos humanos para a recolha, disponíveis diariamente, bem como os meios adequados para fazer o transporte, como carrinhas frigoríficas, nos casos em que a lei assim o exige, e isso não está acessível a todos", clarifica a empresa.
Adicionalmente, é "importante também perceber-se que as empresas não podem dar a qualquer pessoa. Não podem, por exemplo, dar a privados, têm que fazer doações a associações que assim estejam classificadas, com risco de poderem vir a ter problemas fiscais".
Na segunda-feira, um vídeo a denunciar uma situação de desperdício num Pingo Doce em Lisboa tornou-se notícia, tendo fonte oficial da Jerónimo Martins referido ao Notícias ao Minuto que foram "surpreendidos", uma vez que as "normas da empresa não são estas", acrescentando ainda que estão a "analisar o que poderá ter ocorrido".