O relatório da comissão de inquérito da Ordem dos Médicos a que a RTP teve acesso revela que o diretor da Administração Regional de Saúde do Alentejo, José Robalo, intimidou os médicos com um processo disciplinar perante os alertas para o facto de não haver condições no lar de Reguengos de Monsaraz, onde morreram 18 pessoas na sequência de um surto de Covid-19.
Em declarações à RTP, o responsável confirmou a informação, alegando que só o fez para acautelar a prestação de cuidados aos 84 utentes do lar. "A recusa de qualquer profissional médico de prestar cuidados de saúde aos utentes do lar (que são utentes do SNS) levaria à instauração de um processo disciplinar nesta circunstância e em qualquer idêntica", alegou.
Ainda de acordo com José Robalo, "se os profissionais médicos consideravam que não havia condições para a prestação de cuidados médicos deveriam ter referenciado os utentes para o local que considerassem mais adequado".
O diretor regional de saúde afirmou ter visitado, por duas vezes, o lar, mas não esteve junto dos utentes. Por isso, justificou, "se isso [a falta de condições] se passou, pode ter-se passado, efetivamente, mas não presenciei. Mas os profissionais de saúde pública, hospitalares e de cuidados primários de saúde deviam ter criado as melhores condições de alternativa se consideravam que as condições não eram as melhores para a prestação de cuidados", reiterou.
Ainda de acordo com a RTP, José Robalo considera que o relatório apresentado pela Ordem dos Médicos não tem qualquer fundamento e acusa mesmo a redatora do documento de ter sido a responsável pela falta de médicos no lar. A metodologia utilizada pela autora, diz ainda a RTP citando o diretor regional de saúde, é obscura, enganosa e tendenciosa.
O relatório da comissão de inquérito da Ordem dos Médicos indica que os utentes do lar estava deitados quase lado a lado, sem espaço para os médicos se deslocarem. É ainda referido, de acordo com a estação televisiva pública, que os idosos estavam desidratados, desorientados, alguns com feridas na pele.
Em relação às condições estruturais, fala-se num edifício degradado, num calor extremo, em lixo no chão e num cheiro horrível, motivado, entre outros, por vestígios de urina seca.
Segundo a Ordem dos Médicos, os profissionais de saúde que foram enviados para o lar durante o surto não estavam preparados, já que os idosos deveriam ser submetidos a "múltiplos tratamentos e não havia registos clínicos, quer antes, quer durante os primeiros dias do surto".