Reguengos. Médicos que avisaram para condições de lar ameaçados pela ARS

Os médicos do lar de Reguengos de Monsaraz foram ameaçados com um processo disciplinar pelo diretor da Administração Regional de Saúde do Alentejo. O responsável justifica o posicionamento com a necessidade de acautelar a prestação de cuidados aos utentes.

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Filipa Matias Pereira
18/08/2020 09:44 ‧ 18/08/2020 por Filipa Matias Pereira

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Reguengos de Monsaraz

 

O relatório da comissão de inquérito da Ordem dos Médicos a que a RTP teve acesso revela que o diretor da Administração Regional de Saúde do Alentejo, José Robalo, intimidou os médicos com um processo disciplinar perante os alertas para o facto de não haver condições no lar de Reguengos de Monsaraz, onde morreram 18 pessoas na sequência de um surto de Covid-19.

Em declarações à RTP, o responsável confirmou a informação, alegando que só o fez para acautelar a prestação de cuidados aos 84 utentes do lar. "A recusa de qualquer profissional médico de prestar cuidados de saúde aos utentes do lar (que são utentes do SNS) levaria à instauração de um processo disciplinar nesta circunstância e em qualquer idêntica", alegou.

Ainda de acordo com José Robalo, "se os profissionais médicos consideravam que não havia condições para a prestação de cuidados médicos deveriam ter referenciado os utentes para o local que considerassem mais adequado".

O diretor regional de saúde afirmou ter visitado, por duas vezes, o lar, mas não esteve junto dos utentes. Por isso, justificou, "se isso [a falta de condições] se passou, pode ter-se passado, efetivamente, mas não presenciei. Mas os profissionais de saúde pública, hospitalares e de cuidados primários de saúde deviam ter criado as melhores condições de alternativa se consideravam que as condições não eram as melhores para a prestação de cuidados", reiterou.

Ainda de acordo com a RTP, José Robalo considera que o relatório apresentado pela Ordem dos Médicos não tem qualquer fundamento e acusa mesmo a redatora do documento de ter sido a responsável pela falta de médicos no lar. A metodologia utilizada pela autora, diz ainda a RTP citando o diretor regional de saúde, é obscura, enganosa e tendenciosa.

O relatório da comissão de inquérito da Ordem dos Médicos indica que os utentes do lar estava deitados quase lado a lado, sem espaço para os médicos se deslocarem. É ainda referido, de acordo com a estação televisiva pública, que os idosos estavam desidratados, desorientados, alguns com feridas na pele.

Em relação às condições estruturais, fala-se num edifício degradado, num calor extremo, em lixo no chão e num cheiro horrível, motivado, entre outros, por vestígios de urina seca.

Segundo a Ordem dos Médicos, os profissionais de saúde que foram enviados para o lar durante o surto não estavam preparados, já que os idosos deveriam ser submetidos a "múltiplos tratamentos e não havia registos clínicos, quer antes, quer durante os primeiros dias do surto".

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