Tudo sobre reunião do Infarmed (ainda vamos a tempo de evitar 2.ª vaga?)

Apesar de a crise pandémica se ter agravado em Portugal, como reconheceram os especialistas na reunião sobre a evolução da Covid-19 em Portugal, o Governo garante que as escolas estão preparadas para o regresso às aulas, marcado para a próxima semana. Epidemiologistas vincaram, porém, a necessidade de manter o distanciamento entre alunos, uma vez que a reabertura das escolas "tem uma grande propensão para originar uma segunda onda". Mas, garantem, ainda vamos a tempo de a evitar.

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Filipa Matias Pereira
08/09/2020 08:50 ‧ 08/09/2020 por Filipa Matias Pereira

Política

Covid-19

Aquelas que ficaram conhecidas como as 'reuniões do Infarmed' regressaram na segunda-feira. O 'palco' mudou, já que a sessão teve lugar no auditório da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, mas as 'personagens principais' mantiveram-se. Especialistas, políticos e parceiros sociais voltaram a analisar a situação epidemiológica da Covid-19 em Portugal.

O agravamento da situação epidemiológica, o regresso às aulas, a vacina e uma possível segunda vaga do novo coronavírus por cá foram alguns dos temas do 'guião'. Esta nova sessão trouxe ainda uma novidade, já que as apresentações foram feitas, pela primeira vez, em transmissão aberta.

A crise pandémica agravou-se desde meados de agosto em Portugal. Esta foi uma das conclusões de Pedro Pinto Leite, da Direção-Geral da Saúde (DGS). De acordo com o especialista, entre 17 e 30 de agosto foram registadas 3.909 novas infeções. Ao nível da transmissão, 49% dos que referiam ter tido contacto com o vírus fizeram-no em contexto familiar, com apenas 16% a indicarem o contexto laboral.

Esta "trajetória crescente" pode ser justificada pelo "contributo principal dos concelhos de Odivelas, Amadora, Sintra e Lisboa". Perante as conclusões, Pedro Pinto Leite foi perentório ao afirmar que é "necessário reforçar as medidas não farmacológicas conhecidas por todos - desde o distanciamento físico, a higienização das mãos, o uso de máscaras ou outros equipamentos de proteção individual, o arejamento de espaços, evitar tocar com as mãos nos olhos, no nariz e na boca, e a desinfeção dos locais".

Segunda vaga pode ser evitada se contactos forem reduzidos

Os especialistas defenderam que a segunda vaga de infeção do novo coronavírus poderá ser evitada em Portugal se os jovens e a sociedade em geral reduzirem os seus contactos comparativamente ao "tempo pré-Covid", e se os casos assintomáticos forem controlados.

"A reabertura das escolas, no seguimento das medidas de relaxamento do confinamento, tem uma grande propensão para originar uma segunda onda, mas há uma boa noticia que é a de que a segunda onda não é uma fatalidade, não é uma coisa inevitável e conseguimos até estimar o que podemos fazer para a evitar", disse Manuel do Carmo Gomes.

De acordo com os modelos matemáticos apresentados, para que se evite uma segunda vaga do novo coronavírus em Portugal é preciso ter em conta "duas circunstâncias": os contactos na sociedade e os contactos nas escolas.

Segundo o especialista, se aquando da reabertura das escolas os contactos nas escolas forem reduzidos em 30% em relação à época "pré-Covid", "a probabilidade de uma segunda onda é muito baixa".

No entanto, para evitar o surgimento da segunda vaga, o especialista defendeu que será também necessário que os contactos na sociedade sejam reduzidos para metade daquilo que era o "pré-Covid", uma vez que "não basta alterar o comportamento dos jovens nas escolas".

"Há um aspeto positivo. O modelo prevê que é possível evitar a segunda onda, dá-nos uma indicação daquilo que temos de fazer para evitar a segunda onda", referiu o especialista.

Regresso às aulas

Ora, o regresso da atividade letiva presencial tem precisamente dividido a opinião de figuras proeminentes de diversos quadrantes da sociedade.

Já no final da reunião, em declarações aos jornalistas, Marta Temido asseverou que "estamos preparados para enfrentar o regresso às aulas e também estamos melhor preparados do que estávamos há seis meses para enfrentar um eventual recrudescimento da doença".

Já Tiago Brandão Rodrigues sublinhou o trabalho das escolas e o sucesso das orientações que foram implementadas pelas autoridades de saúde, aproveitando para relembrar que as escolas não tiveram "praticamente" casos durante o período de reabertura para os alunos do ensino secundário.

"As orientações falam do distanciamento físico e reorganização dos espaços. Mas o mais importante é a gestão de casos suspeitos", referiu.

Ainda neste âmbito, defendeu uma infecciologista pediátrica, com base num estudo realizado no Hospital Dona Estefânia, que nas crianças o novo coronavírus "não se transmite" como a gripe e que tal pode ser "reconfortante" para a decisão de reabertura das escolas.

De acordo com Maria João Brito, "abrir infantários é uma coisa, abrir secundários é outra e abrir faculdades é outra. Portanto, nas crianças muito pequeninas, realmente, a taxa de transmissão parece menor".

Vacina? Só quando estiver assegurada "segurança e eficácia"

O presidente da Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) assegurou, por sua vez, que nenhuma das vacinas para a Covid-19 poderá ser disponibilizada sem ter sido sujeita a uma avaliação de segurança e eficácia.

Precisou o responsável que há, neste momento, 176 vacinas a serem desenvolvidas, das quais 33 estão em fase de avaliação clínica, já estão a ser estudadas em pessoas, e há oito vacinas que estão na terceira fase dos ensaios, a fase prévia à sua apresentação às autoridades para a sua utilização.

"Face à incerteza e à situação concreta com que estamos a trabalhar é importante abranger um leque alargado de vacinas", defendeu, adiantando que neste momento estão a ser objeto de discussão e de negociação a nível europeu seis das oito vacinas que estão na fase 3.

Outra das medidas que Portugal adotou no combate a esta crise pandémica foi a app 'StayAway Covid', que já foi descarregada por 660 mil pessoas, como anunciou o presidente do conselho de administração do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), José Manuel Mendonça.

Para o especialista, a 'StayAway Covid' "é um sistema complexo", mais do que uma simples app. Pode, inclusive, ser considerada "uma rede social".

"Não há dados pessoais envolvidos, há anonimato completo de quem é avisado de um potencial contacto perigoso - o infetado não sabe quem o infetou. Ninguém sabe quem é o infetado, à exceção das autoridades de saúde", afirmou.

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