"news_bold">"Não vivo descansada a cada dia que passa porque sei que, eventualmente, poderá existir outro 17 de junho na minha vida ou de outras pessoas", disse Dina Duarte na comissão eventual de Inquérito Parlamentar à atuação do Estado na atribuição de apoios na sequência dos incêndios de 2017 na zona do Pinhal Interior, na Assembleia da República.
O incêndio que deflagrou em 17 de junho de 2017 em Pedrógão Grande alastrou aos concelhos vizinhos, com maior intensidade em Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, e provocou 66 mortos e 254 feridos, destruindo meio milhar de casas e 50 empresas.
Ouvida na tarde de hoje a requerimento dos grupos parlamentares do PS e do CDS-PP, a dirigente defendeu uma mudança de mentalidades, através da educação, para se começar a alterar o tipo de floresta em Portugal, nomeadamente a monocultura.
Segundo Dina Duarte, "temos de pensar diferente, uma solução diferente em termos florestais, porque não vivo numa floresta, vivo numa monocultura, que não me dá segurança nenhuma, nem a mim nem aos meus vizinhos".
"É difícil deixar de ter eucalipto porque não temos capacidade económica para arrancar as cepas e porque não há capacidade económica do Estado para arrancar as cepas que estão à beira das estradas, dentro dos 10 ou dos 20 metros para cada lado", frisou em resposta ao deputado João Almeida do CDS-PP.
A presidente da Associação das Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande considera que mudar mentalidades "é muito difícil", mas que esse é o caminho para se abandonar "uma imensa monocultura, que não dá segurança nenhuma".
"Há pessoas que perderam familiares [no incêndio de 17 de junho de 2017] e continuam a plantar eucaliptos perto de casa", lamentou Dina Duarte, dizendo-se triste por perceber que "as mentalidades não mudaram" e que estão todos à espera "que venha outro incêndio, porque vai voltar a acontecer".
"Para mim é muito triste viver numa zona ou num país em que se pensa que todos os anos tem de haver um incêndio", acrescentou a dirigente, criticando o inconformismo que acabou por se estabelecer após a tragédia de junho de 2017.
Salientando que tem existido "algum trabalho" na limpeza de bermas e faixas de proteção, a presidente da Associação das Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande questiona se é "solução andar-se permanentemente a limpar".
Dina Duarte interroga-se se existe capacidade económica de um país como Portugal para limpar "todas as bermas de todas as estradas" e se é solução um privado "limpar três, quatro vezes o mesmo terreno e continuar a tê-lo sujo" e sujeito a arder se houver um incêndio.
"Tem-se limpo alguma coisa. Em junho limparam e, em setembro, três ou quatro meses volvidos, precisa de ser limpo outra vez", sublinhou a dirigente associativa, que, na audição parlamentar, também se mostrou abalada pelas suspeições levantadas a propósito da reconstrução das habitações no território afetado.