Um novo estudo internacional, no qual participou o português Agostinho Antunes, conclui que é pouco provável que o pangolim tenha sido o hospedeiro secundário do SARS-Cov-2, como fora inicialmente apontado por uma investigação levada a cabo pela Universidade de Agricultura do Sul da China, que sugeria que este pequeno mamífero poderia ter sido o elo de transmissão entre o morcego e os seres humanos.
O novo estudo, liderado pela Universidade Wenzhou-Kean, na província chinesa de Zhejiang, e pela Fundação para a Conservação da Biodiversidade e o Desenvolvimento Verde da China, aponta que existe maior semelhança genética entre o coronavírus detetado nos morcegos e o novo coronavírus.
A conclusão da equipa de cientistas resulta da análise de dois pangolins, um deles infetado com um tipo de coronavírus, ainda que semelhante, diferente do SARS-Cov-2.
"Os pangolins parecem ter sido vítimas infetadas por CoV [coronavírus], transportado por uma espécie hospedeira reservatório natural ainda não identificada. Essa situação pode ter ocorrido devido ao sistema imunológico enfraquecido do pangolim", refere Agostinho Antunes ao Notícias ao Minuto. Nesta investigação, "foi dada prioridade à triagem para coronavírus em órgãos que apresentavam sintomas com base nos dados de imagens de tomografia computadorizada e necropsia", tendo sido realizado, posteriormente, o diagnóstico molecular.
O investigador indica ainda que a análise genética da sequência genética do vírus encontrada no pangolim também aponta no sentido de este animal não ter sido o hospedeiro secundário, uma vez que "existe maior similaridade entre o vírus encontrado nos morcegos e o vírus COVID-19 humano", explica o professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e investigador no Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (Ciimar).
No estudo são apresentadas outras razões que suportam a tese de que estes pequenos mamíferos em risco de extinção, afinal, não terão sido os responsáveis pela transmissão da SARS-Cov-2 aos humanos. Pelo menos 20 pessoas contactaram de perto com os 155 pangolins apreendidos em Guangdong, sem usar proteção, e ninguém ficou infetado com o tipo de coronavírus encontrados nestes animais, sugerindo isso que se trata de uma estirpe dificilmente transmissível para humanos.
Além disso, até aqui, muito poucas espécies foram testadas para o novo coronvírus (ou outros coronavírus). sabendo-se apenas de tigres e leões com teste positivo no Jardim Zoológico do Bronx e de gatos e furões um pouco por todo o mundo. No que diz respeito aos pangolins,, à luz daquilo que é o conhecimento científico, nenhum animal teve um teste positivo para a Covid-19.
O pangolim é o mamífero mais contrabandeado do mundo, com cerca de um milhão de espécimes capturadas nos últimos 10 anos, nas florestas da Ásia e África. A caça ilegal é estimulada pelo aumento da procura pela sua carne e partes do corpo.
O pangolim, que tem a língua mais longa do que o seu corpo e se alimenta de formigas e térmitas, é protegido desde setembro de 2016, pela Convenção Internacional sobre o Comércio de Espécies Ameaçadas de Extinção, da qual a China é signatária.
Em algumas regiões da China e do Vietname, o uso da carne do pangolim é popular entre jovens mães, pelos seus alegados efeitos benéficos para o leite materno, enquanto as suas escamas são usadas em farmacopeia tradicional.