Portugal registou esta quinta-feira 770 novos infetados pelo novo coronavírus, o que representou o maior número de novos casos diários desde 10 de abril, altura em que o país se encontrava em estado de emergência. Os dados fizeram soar os alarmes, levando António Costa a convocar o gabinete de crise para uma reunião com carácter de urgência esta sexta-feira em São Bento.
Em declarações ao Notícias ao Minuto, o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública fala de apreensão e confessa que o agravamento da situação epidemiológica no país acabou por acontecer mais cedo.
"Estamos apreensivos com o aumento do número de casos. Sabíamos que era provável um aumento, perante o regresso de férias, a retoma da atividade letiva e a típica circulação de vírus respiratórios no outono/inverno", afirma, admitindo que "este aumento acabou por ser mais precoce".
Certo é que estes dados ainda não refletem o impacto, por exemplo, do regresso às aulas que só se verificará dentro de duas semanas. "Tal como os impactos nos internamentos, cuidados intensivos e mortalidade, que são diferidos no tempo em relação à subida dos casos diagnosticados", lembra o especialista em Saúde Pública do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).
No que toca a medidas, Ricardo Mexia diz ser "fundamental o reforço dos meios de resposta". "Concretamente, nas Unidades de Saúde Pública é fundamental ter capacidade para fazer a vigilância epidemiológica em tempo útil", algo que não se tem verificado porque os meios são escassos para a dimensão do problema que "com o aumento do número de casos é cada vez mais difícil".
Dando como exemplo a situação verificada na periferia de Lisboa há uns meses, em que foi notória a escassez de meios no combate à propagação do vírus, o especialista defende a implementação de equipas multidisciplinares, como veio a acontecer na capital. "É um bom exemplo. E agora, com as escolas, vão ser ainda mais necessárias", defende.
Ao Notícias ao Minuto, Ricardo Mexia diz ainda que é cedo para afirmar se o país já está a enfrentar uma segunda vaga da doença, sublinhando, contudo, que essa não é uma questão "muito relevante do ponto de vista técnico".