"Está tudo na mesma, mas diferente", disse à agência Lusa Margarida Correia, aluna do 7.º ano, pouco antes de entrar no Colégio dos Salesianos do Funchal, onde vigora um horário desfasado com três tempos - 08:10, 08:20 e 08:30 - e esta foi uma das mudanças face ao ano anterior, em que as aulas começavam às 08:00.
Nesta escola privada do Funchal, com cerca de 800 alunos, é feita a mediação de temperatura à entrada e, tal como em todos os 130 estabelecimentos de ensino da Região Autónoma da Madeira, o uso de máscara é obrigatório a partir do 1.º ano do 1.º ciclo.
O desfasamento do horário contribuiu para evitar ajuntamentos à entrada e também no interior do colégio e pôs fim aos toques de campainha para assinar o começo e o fim das aulas.
"Não há toques, mas isso é fácil de habituar. Toda a gente começa a subir [para as salas de aula] e tu sobes também", explicou Margarida Correia, que integra uma turma com 20 alunos, com secretárias individuais, na qual é proibido partilhar material e cada um usa o seu marcador quando vai ao quadro.
"Nas aulas de educação física está tudo igual, não usamos máscara, partilhamos as bolas", disse, indicando que no acesso à cantina também há sempre uma "alta fila", desde o início do ano letivo, em 14 de setembro.
A aluna referiu que em muitos aspetos se trata de um "regresso à normalidade", sobretudo considerando que as aulas são presenciais, situação que classifica como "superpositivo".
"Eu detestei o ensino à distância, porque sentia que não estava a aprender nada, que não me estava a esforçar, não era estimulante", afirmou, e, embora diga que se sente segura na escola e que as conversas sobre a covid-19 são sempre em tom de brincadeira, não deixa de pensar que tudo pode voltar atrás.
"Vamos ver quanto tempo é que vai durar", disse.
Mas, para já, sente-se feliz no regresso à escola e prefere valorizar o que está igual: "As mesmas pessoas, o mesmo grupo de amigos, as mesmas conversas, o mesmo tipo de convívio, a mesma turma. Só os professores são diferentes, porque mudei de ciclo."
Margarida Correia contou também que agora não se vê "quase ninguém" no recinto depois das 16:00, o que não acontecia no ano anterior, em que muitos alunos ficavam no campo a jogar.
"A maior parte dos alunos vai para casa logo que as aulas terminam", disse.
A "tranquilidade, a calma e o silêncio" nas escolas foi, precisamente, um dos aspetos positivos que os docentes destacaram num inquérito com 500 respostas realizado pelo Sindicato dos Professores da Madeira, a propósito da reorganização decorrente das medidas de contenção da pandemia.
A situação é visível mesmo nos estabelecimentos de grande dimensão, como a Escola Secundária Francisco Franco, no centro do Funchal, a maior escola pública do arquipélago e uma das maiores do país, com 2.350 alunos, 270 professores e cerca de 90 funcionários.
"A nossa grande preocupação foi tentar evitar que houvesse, em simultâneo, uma concentração muito elevada de alunos, o que é muito difícil. Mesmo que se tenha muito cuidado, há sempre muita gente a circular", disse à agência Lusa António Pires, presidente do conselho executivo.
Foram criados dois horários de entrada - às 08:00 para os 10.º e 11.º anos e às 08:15 para o 12.º ano e cursos profissionais -, as turmas foram redistribuídas pelos turnos da tarde e da manhã e foram abertos três portões - um para entrada e dois para saída -, quando no ano passado era utilizado apenas um.
António Pires sublinhou que são "medidas simples", mas fizeram diminuir para metade a circulação na escola, onde a média de alunos por turma é de 23, havendo, no entanto, turmas com 26.
"As aulas começaram ontem [quinta-feira] e já deu para perceber que algumas turmas estão em espaços que têm de ser mudados. Estamos a identificar os casos que precisam de mais atenção e estamos a prever que na próxima sexta-feira haja uma atualização dos horários ao nível das salas, para acautelar o mais possível a distância social entre os alunos", explicou.
Na Região Autónoma da Madeira, o ano letivo 2020/2021 envolve 42.000 alunos, 6.200 professores e cerca de 4.000 funcionários, sendo que todo o pessoal docente e não docente foi testado para covid-19 e não há reporte de qualquer caso positivo.