Dentro dos círculos desenhados no recinto de oração, que tem a lotação máxima de 6.000 pessoas, estava menos de uma dezena de peregrinos, que prometem não arredar pé, mesmo que o sol aperte.
"Está muito menos gente. Isto está uma tristeza. Se calhar, nem vai chegar ao limite", diz à agência Lusa Fátima Lourenço, das Caldas da Rainha, que usa uma máscara com a imagem da Nossa Senhora de Fátima.
Peregrina devota (os seus três filhos têm os nomes dos pastorinhos), veio de manhã cedo para reservar lugar.
Lara Dias, de Óbidos, que se encontra sempre com Fátima na Cova da Iria, está mais "apreensiva" em relação à manhã de terça-feira.
"Quantas horas mais cedo é que terei de acordar para garantir um lugar [perto do percurso da Procissão do Adeus]?", questiona Lara.
Fátima Lourenço responde-lhe: "Se for necessário, até no chão durmo para garantir lugar".
De mais longe, concretamente de Vila Nova de Famalicão, vieram Isabel Pimenta e Marisa Sousa, que chegaram ao recinto da oração perto das 09:00.
Sentadas num círculo junto à Capelinha das Aparições, acompanhadas de sacos com comida e livros para ajudar a entreter o tempo, as duas amigas não se deixam desanimar pela temperatura que começa a aquecer.
"Quisemos vir cedo para termos possibilidade de escolha do lugar. Assim ficamos com missas para o ano todo", graceja Marisa Sousa.
"E em todas as línguas", acrescenta Isabel Pimenta, que está a cumprir a promessa de todos os anos visitar Fátima.
Marisa não fez qualquer promessa, mas está em Fátima "para agradecer à Nossa Senhora", que a ajudou num problema de saúde.
"Devido a esta situação de pandemia que vivemos, as pessoas olham um bocadinho mais para dentro de si e sentem mais necessidade de vir junto aos pés da 'mãe'", considera.
José Paiva veio do Porto com a mulher, para acompanhar a peregrinação de outubro, notando que, "por esta hora, já estaria muito mais gente".
Desta vez, veio "um pouco mais cedo", face ao limite imposto, afirma à Lusa o homem de 82 anos, que já tem duas cadeiras instaladas num dos círculos junto ao percurso da procissão, para além de comida e casacos para aguentar a noite.
Também Pedro Miguel, de 42 anos, veio da Trofa mais cedo com receio de perder um lugar para acompanhar as cerimónias.
Ainda não ocupou nenhum dos círculos porque, face a um recinto quase deserto, não lhe parece que seja necessário, por enquanto.
Já Vítor Duarte e António Magalhães, que vieram do Porto, não estão minimamente preocupados com a lotação do recinto.
"Não venho para ver a capelinha. O que me move é a fé. Se não houver lugar, ficamos ao lado", conta Vítor Duarte, que já em maio, quando o recinto estava fechado, acompanhou as celebrações de fora.
Alberto Silva desloca-se a Fátima várias vezes por ano e, apesar da pandemia, este não foi exceção: "Não pude vir em maio, mas vim em julho, agosto, setembro e outubro, porque para mim Fátima é tudo".
O hotel foi marcado no mês passado e nem o apelo feito pelo reitor do santuário às pessoas de mais longe para não se deslocarem a Fátima o demoveu.
"Quando eu tenho uma ideia sou tramado. Vinha com a ideia de 'se entrar entro, se não entrar paciência', porque estar em Fátima já me basta, nem que seja na rotunda da entrada", frisa.
Com mais receio da confusão estava Gurmit Singh e a mulher, que chegaram de Almada perto das 10:00, mas contam regressar a casa depois de almoço.
"Já estivemos na capelinha, fomos às velas e demos uma voltinha, mas depois de almoço vamos embora", conta o indiano, que vive há dez anos em Portugal e está na sua terceira visita à Cova da Iria.
O limite de cerca de 6.000 pessoas nos 48 mil metros quadrados do recinto de oração do Santuário de Fátima, imposto devido à pandemia da covid-19, marca as celebrações da Peregrinação Internacional Aniversária que hoje tem início.
Para evitar um número elevado de pessoas, a Direção-Geral da Saúde e o Santuário de Fátima reforçaram o plano de contingência do recinto de oração, criando um conjunto de medidas adicionais para esta peregrinação, que será presidida pelo bispo de Setúbal e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, José Ornelas.