"A preocupação é que o SNS consiga responder à Covid e às outras doenças"

Ministra de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva, foi a convidada da RTP na Grande Entrevista desta quarta-feira, no dia em que o país ultrapassou, pela primeira vez, a barreira dos dois mil casos diários.

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Melissa Lopes
15/10/2020 00:10 ‧ 15/10/2020 por Melissa Lopes

País

Pandemia

Esta quarta-feira, dia em que o país registou o maior número de contágios pelo novo coronavírus (2.072), o Governo decidiu elevar o estado de alerta voltando à situação de calamidade, o que implica um agravamento das restrições impostas em todo o país (como é o caso da limitação de ajuntamentos de cinco pessoas e limitação do número de pessoas em casamentos e batizados).

Em entrevista à RTP, a ministra de Estado e da Presidência afirmou que o Governo antecipou, no início de setembro, um aumento do número de casos. Nessa altura, o Executivo decretou o estado de contingência em todo o país "precisamente para preparar" uma situação que, naquela fase, já se verificava um pouco por toda a Europa, embora com números mais baixos. "Por isso, não posso dizer que tenhamos ficado surpreendidos, ainda que nesta última semana a aceleração no número de casos seja significativa", disse Mariana Vieira da Silva, enquadrando as medidas tomadas hoje em Conselho de Ministros.

"Precisamos todos de ter em conta que comportamentos podemos ter neste momento: manter as distâncias, lavar as mãos com frequência, usar a máscara sempre que não seja possível manter a distância, estarmos atentos aos sintomas, não irmos trabalhar quando temos febre", aproveitou para apelar.

Questionada sobre se houve um desleixo dos portugueses em relação à pandemia, devido ao cansaço, a ministra disse não considerar a palavra "desleixo" a palavra certa. "Aquilo que aconteceu em Portugal, tal como em todos os países, é que com o tempo a passar, há um certo relaxamento porque já vivemos com isto há alguns meses, o medo também vai baixando", comentou, sublinhando que se há pessoas com Covid-19 que não se sentem especialmente mal, há outras em quem a doença se agrava muito rapidamente.

"O cansaço nas pessoas é natural, não há nenhum português que não pense: 'Estou farto disto da Covid', mas este é o momento crítico para tomarmos medidas certas e para nos prepararmos para um momento que sempre dissemos que seria mais difícil: o outono/inverno, onde se mistura a Covid com doenças que sempre tivemos - constipações, gripes, doenças do foro respiratório". Por se anteverem meses mais difíceis, devemos "reforçar os nossos cuidados", e foi por isso também que o Governo alterou as regras. 

Mariana Vieira da Silva explicou que o Governo recomenda que se use máscara em espaços abertos, sempre que a distância não seja possível, tendo sido já entregue uma proposta de lei no Parlamento no sentido de tornar obrigatório o seu uso. "Se fosse só deixar à consciência de cada não era uma proposta entregue na Assembleia da República. Existe uma sanção associada", disse.

Neste momento, clarificou, a partir da meia noite, "o uso da máscara é fortemente recomendado", mas aquilo que o Executivo espera é que a AR faça um debate sobre essa alteração que é uma alteração "difícil de tomar" e que "gera dúvidas". 

A proposta de lei entregue contempla também a obrigatoriedade do uso da aplicação Stayway Covid que, desde logo, gerou muitas dúvidas em matéria de privacidade. Sobre essa questão, a ministra realçou que a aplicação, "tal como está desenhada, não partilha localizações, não partilha dados, a única coisa que faz é reconhecer que dois telemóveis que têm a aplicação, sem saber qual é qual, estiveram juntos, a menos de dois metros e mais de 15 minutos". Portanto, "as questões da privacidade estão protegidas. É segura desse ponto de vista", assegurou. 

Sem conseguir dar um número a partir do qual o Governo ficaria alarmado, Mariana Vieira da Silva garantiu que diariamente o Serviço Nacional de Saúde faz essa avaliação e diariamente toma as decisões de gestão de número de camas Covid-19 que são necessárias. "Estamos, neste momento, muito longe desse limite, ainda que se possam sentir algumas sensações de preocupação", garantiu, assegurando que o alargamento de camas para infetados com o novo coronavírus será feito.

"A nossa preocupação é que o SNS consiga responder à Covid-19 e às outras doenças", vincou, em linha com o que afirmou, esta quarta-feira, Marta Temido. "Era fácil dizer que todas as camas são para a Covid-19. E o resto?", enfatizou a ministra de Estado e da Presidência, sublinhando o equilíbrio que tem ser feito na gestão dos recursos. Igualmente como a ministra da Saúde, Mariana Vieira da Silva relevou a recuperação na atividade assistencial que ocorreu em setembro.

"Agora chegamos a um momento em que a doença Covid-19 se agrava, e esta gestão terá de ser novamente feita. O que importa é gerir bem. Aproveitar o tempo em que a doença estava menos ativa para retomar a atividade normal, e agora fazer a gestão que precisamos de fazer para que o SNS seja capaz de dar resposta", declarou a ministra.

Questionada sobre a carta aberta dos bastonários, que criticaram a organização do SNS e que dizem ser preciso mais para responder aos doentes Covid e aos doentes não Covid, Mariana Vieira da Silva afirmou: "Nunca dissemos que em três meses conseguiríamos transformar todos estes problemas" da escassez de meios no SNS, realçando como o país evoluiu, desde o início da pandemia, no que toca por exemplo a ventiladores e camas de cuidados intensivos.

Quanto a um possível novo confinamento, a ministra não se afastou um milímetro do que tem sido a posição do Governo. "Temos de afastar do nosso horizonte a possibilidade de fazer um confinamento geral, global" (..) Seria muito danoso, não só para a economia", disse, defendendo que o que é preciso, cada vez mais, é "focar medidas", ou seja, tomar as medidas que são necessárias, onde são necessárias, procurando evitar medidas generalizadas. 

Sobre eventuais restrições no Natal, Mariana Vieira da Silva sublinhou que "devemos concentrar-nos em que a segunda quinzena de outubro seja uma quinzena em que conseguimos mudar este crescimento" e que "controlar a pandemia é o nosso objetivo principal". Se assim for,  "chegaremos a dezembro em condições melhores", afirmou, acrescentando não ser uma questão de expetativa mas sim de cada um de nós contribuir para isso. "Pode não ser suficiente e cá estaremos para tomar as medidas necessárias", garantiu.

 

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