O antigo sócio fundador da sociedade de advogados José Miguel Júdice chamou esta terça-feira "ladrão" a Rui Pinto, denunciando a "violência moral e psicológica" do criador do 'Football Leaks' na 17.ª sessão do julgamento, numa audição por videoconferência para o Tribunal Central Criminal de Lisboa.
A resposta do hacker não se fez esperar. Socorrendo-se do Twitter, Rui Pinto afirmou: "José Miguel Júdice lidou durante décadas com ladrões, que lhe encheram a conta bancária através de honorários milionários, e nunca se queixou".
"Defende com unhas e dentes Ricardo Salgado dizendo que não é nenhum gangster", acrescentou, terminando: "Acho um piadão a este ex-MDLP [Movimento Democrático de Libertação de Portugal]".
O tweet é acompanhado por uma notícia sobre os Panamá Papers que refere que o advogado teve um papel central nas offshore de João Rendeiro.
José Miguel Júdice lidou durante décadas com ladrões, que lhe encheram a conta bancária através de honorários milionários, e nunca se queixou. Defende com unhas e dentes Ricardo Salgado dizendo que não é nenhum gangster. Acho um piadão a este ex-MDLP.https://t.co/HZuilyFoJm
— Rui Pinto (@RuiPinto_FL) October 27, 2020
Rui Pinto partilha ainda uma publicação de Ana Gomes em que a candidata presidencial escreve que um mail do advogado da PLMJ "revela prestação serviços a Isabel dos Santos para branquear capitais, fugir a fisco e esconder produto de saque a Angola".
Na audição desta terça-feira, o antigo bastonário da Ordem dos Advogados afirmou: "Fui visitado por esse senhor, que só lhe posso chamar ladrão e que, com grande violência moral e psicológica, me veio furtar", reiterando: "Não posso admitir em circunstância alguma que um cidadão, ainda que fosse com aparentes motivos nobres, faça o que foi feito comigo. É totalmente inadmissível do ponto de vista ético ou jurídico."
José Miguel Júdice salientou que o acesso aos documentos pessoais e profissionais, mesmo sem a posterior publicação online dessas informações, é como "uma espada" sobre a sua cabeça, considerando até "mais grave um ladrão que entrou no computador do que um ladrão que entra em casa", pela impossibilidade de ter noção das informações que foram acedidas.
O julgamento prossegue esta quarta-feira a partir das 14h00 com as audições dos advogados Miguel Reis, Diogo de Campos e Sandra Lopes e as secretárias Mónica Dias, Fátima Bulhosa, Ana Paula Bago e Isabel Mascarenhas, todos na condição de testemunhas e ligados à PLMJ.
Rui Pinto, de 31 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.
O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 7 de agosto, "devido à sua colaboração" com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu "sentido crítico", mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.