"Neste período em que temos uma vaga [de covid-19] que está a ter muitos infetados e muitos internamentos, os hospitais, apesar de tudo, têm uma componente que continua a funcionar", disse à agência Lusa o presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), António Morais.
As consultas vão-se mantendo, há doentes a serem consultados.
"Há muitos recursos que neste momento estão completamente focalizados na pandemia, mas é normal que assim seja dada a dimensão da situação", disse António Morais.
O pneumologista recordou que quando surgiram os primeiros casos em março e deu-se o "confinamento" houve cancelamento das consultas, dos exames e "só se fez aquilo que era mais grave".
"As consultas de oncologia mantiveram-se, mas tudo o resto foi cancelado", exemplificou.
"Neste momento, apesar de tudo, temos mantido uma atividade com algumas restrições, mas temos mantido a atividade mais do que aquela que tivemos no início da pandemia" para os doentes não covid.
Contundo, sublinhou, pode haver prejuízos porque "a disponibilidade" dos cuidados de saúde primários e dos hospitais "é mais limitada do que numa situação normal".
"É provável que decorram daqui alguns prejuízos, nomeadamente para doentes que têm a apresentação da sua doença, isto é, doentes que estão na fase de serem diagnosticados para uma doença e aqui é possível que haja alguns constrangimentos, isso acredito que sim", declarou.
Questionado sobre o recurso ao setor privado e social pode ser uma solução, António Morais afirmou que sim, porque pode colmatar algumas falhas.
"Acho que neste momento, é perfeitamente normal que se possa contar e que se contratualize com os serviços sociais e os serviços privados que existem" porque "pode colmatar algumas falhas, nomeadamente em termos de cirurgias, etc, e mesmo até numa situação de rotura dos próprios doentes relacionados com a covid-19", defendeu.
Por isso, vincou, "acho que faz todo o sentido que o Serviço Nacional de Saúde procure esse apoio".
Sobre como os profissionais lidam no dia-a-dia com esta pressão, António Morais disse que de "uma forma difícil" até porque há muitos profissionais de saúde que acabam por ser infetados e outros que entram em contacto com doentes infetados e têm de ficar em quarentena e, portanto, "não é fácil de gerir essa situação".
"É uma situação muito anómala e dramática, portanto, é claro que exige ainda mais dos profissionais de saúde. É uma situação limite, é uma situação de rutura, não podemos achar de outra forma, temos de fazer aquilo que é possível, e também exigir que aquilo que seja possível fazer por parte das autoridades seja feito e também que o trabalho seja feito em condições de segurança, isso também é importante", defendeu.
Dados do Instituto Nacional de Estatística de 2018 indicam que no conjunto das doenças respiratórias, as mortes por doença pulmonar obstrutiva crónica totalizaram 2.834 óbitos, representando 2,5% do total da mortalidade e com um aumento de 7,9% face a 2017, e a pneumonia causou 5.764 de mortes, representando 5,1% da mortalidade.
O INE destaca ainda 4.317 mortes provocadas por tumores malignos da traqueia, brônquios e pulmão, que representaram 3,8% do total de mortes no país e um aumento de 1,8% em relação ao ano anterior.