“Às vezes é difícil equilibrar a sensibilidade com a especificidade. São sintomas muito comuns, que são detetáveis em muita gente e que para conseguir diagnosticar um caso de covid teria de se rastrear muita gente”, afirma, em entrevista à agência Lusa.
Confrontada com a posição de investigadores da Escola Nacional de Saúde Pública que defendem que sintomas ligeiros como obstrução ou corrimento nasal, dor de garganta e dores musculares devem ser valorizados e considerados suspeitos para a realização de testes à covid-19, Graça Freitas defende que se deve apostar nos sintomas que têm maior probabilidade de estar relacionados com a doença.
“Esses sintomas podem aparecer com a covid-19, é óbvio que sim, mas são sintomas tão pouco específicos, são tão comuns no nosso dia-a-dia (…). Nós também temos de ter em conta a probabilidade de um sintoma poder estar ou não ligado a uma determinada doença”, afirmou.
A responsável explicou ainda que o que as autoridades estão a fazer, internacionalmente, é tentar encontrar o conjunto de sintomas mais específico da covid-19, para que quando procuram num conjunto de pessoas terem maior probabilidade de acertar naqueles parâmetros, nomeadamente, perda do olfato ou do sentido do paladar ou até ter o paladar com algum tipo de distorção.
“Se isso acontece, a probabilidade de ser covid-19 é muito grande. (…) Se for um sintoma mais corrente é muito sensível e implica um rastreio e um diagnóstico diferencial muito grande”, acrescentou.
Graça Freitas explicou que Portugal está a seguir a definição de caso internacional e que para esta definição são usados como critérios clínicos a tosse, ou agravamento do padrão habitual, a febre (igual ou superior a 38 graus), dificuldade respiratória, anosmia (perda de olfato) de início súbito e disgeusia ou ageusia (alteração do paladar ou perda de paladar) de início súbito.
“Nós seguimos as indicações internacionais porquê? Porque elas baseiam-se em análises de muitos casos, em muitos estudos e na probabilidade de de facto acertarmos no diagnóstico perante um determinado número de sintomas”, sublinhou.
Quanto às críticas da academia relativamente aos dados fornecidos aos investigadores, que dizem ter identificado vários erros, inconsistências e omissões nos registos, Graça Freitas diz que a DGS reconhece que não são perfeitos, mas diz que quem tempo o tempo e deve limpar essas bases de dados é precisamente a academia.
“Queremos é que os médicos reportem e que os laboratórios reportem, mas este sistema tem impurezas. Quem é que tem de limpar essas impurezas? Os académicos, a quem damos as bases de dados com toda a transparência”, afirmou.
Um estudo de uma equipa de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto identificou vários erros, inconsistências e omissões nos registos da DGS.
“Para terem uma noção, no nosso sistema já entraram, positivos e negativos, três milhões e 200 mil notificações. Se me disser, não devia aparecer nenhum homem grávido, eu respondo, pois não, mas em 3,2 milhões de notificações houve um médico que se enganou e pôs a cruz no homem e na gravidez. Já podíamos ter limpado essa variável, podíamos, mas para efeitos de vigilância epidemiológica ela não nos faz grande diferença”, explica.
“Nós queremos as grandes linhas, as grandes tendências e queremos saber isto ao dia (…). Há aqui um trabalho que é académico e quem deve fazer isso é a academia, porque tem o seu tempo, não precisa dos dados todos os dias, às 09h00 ou à 10h00 ou às 13h00. Nós precisamos”, afirmou a responsável: acrescentando: ”Nenhuma base de dados (…) que um académico recebe é uma base dados limpa, pura, certa, e não confundamos as duas coisas”.