A ministra começou por revelar, na conferência de imprensa desta quarta-feira, que os óbitos registados no país relacionados com a Covid-19 nas últimas 24 horas dizem respeito a pessoas entre os 45 e 100 anos de idade (36 óbitos do sexo feminino e 43 no sexo masculino). 76 verificaram-se em instituições de saúde, dois em instituições residenciais para idosos e um no domicílio.
Marta Temido esclareceu também que as pessoas internadas nos hospitais constituem três grandes grupos de faixas etárias: 4% são indivíduos com menos de 40 anos; 33% entre os 40 e os 69 anos e 63% são pessoas com mais de 70 anos.
"Referimos estes dados para que todos percebam com clareza que não são só as pessoas que contraem a doença numa fase mais avançada que originam situações de internamento hospitalar", sublinhou.
De recordar que do total de internamentos, 3.051, 432 estão internados em cuidados intensivos, ou seja, 14%.
Ainda sobre a idade, dos casos registados nas últimas 24 horas, mais de mil correspondiam a pessoas entre os 40 e os 49 anos e 425 a pessoas têm mais de 80 anos. "Temos aqui uma situação em o grupo etário predominantemente a contagiar-se, nestas últimas 24 horas, foi o grupo entre os 40 e os 49 anos, mas há um grupo significativo de pessoas com idade avançada entre os novos infetados e isso continua a ser um dado que inspira preocupação".
A ministra adiantou ainda que Portugal continua a manter uma taxa de notificação acumulada de 14 dias acima dos 480 casos por 100 mil habitantes e, neste momento, a taxa de incidência é mesmo 726,2 por 100 mil habitantes, com "variações muito significativas no país". A região Norte tinha 1.264 casos por cem mil habitantes nos últimos 14 dias; a região Centro 505 casos; a região Lisboa e Vale do Tejo 498; Alentejo 281 e o Algarve 265 casos por cem mil habitantes.
Quanto ao risco de transmissão (RT), calculado para os dias 9 a 13 de novembro, este situa-se, em média, nos 1.11. Adicionalmente, os cálculos apontam para uma "incidência crescente", apesar do risco de transmissão estar a reduzir-se, disse a ministra, salientando que estes dois aspetos "não são antagónicos". "O risco de transmissão está a aproximar-se do 1, idealmente deve estar abaixo de 1 (...), e estando acima de 1, continua a ser um aspeto que oferece preocupação", salientou Marta Temido.
Número de casos elevado "tem efeitos absolutamente nefastos"
"O que nos preocupa neste momento é a elevada incidência que temos, ou seja, o elevado número de novos caos por dia, o que torna o ciclo da doença uma preocupação para o funcionamento da sociedade e, concretamente, para os serviços de saúde", afirmou a governante.
Mais tarde, regressou à elevada incidência para concretizar que números de contágios diários acima dos 5 mil, 6 mil, e potencialmente mais elevados, "tem efeitos absolutamente nefastos" naquilo que é "a utilização dos serviços de saúde, naquilo que é a doença que estão infetadas pelo vírus e que tem consequências que nós não conhecemos ainda totalmente", realçou Marta Temido, referindo-se aos estudos que apontam para sequelas mesmo quando a doença é ligeira ou assintomática.
Antes das perguntas dos jornalistas, Marta Temido afirmou que temos de continuar o "reforço do SNS", sublinhado que "a elevada pressão no Norte tem levado a que sejam ainda abertas novas camas para cuidados intensivos e a que tenham sido feitos protocolos com outras entidades que também têm estado a colaborar na resposta aos doentes Covid".
Mas, "aquilo que importa é parar as cadeias de transmissão e para isso somos todos importantes nos gestos simples que todos conhecemos": a utilização da máscara, lavagem frequente das mãos, boa etiqueta respiratória e o arejamento dos espaços.
"Os profissionais de saúde precisam dos portugueses para a adoção destes comportamentos, só juntos conseguiremos ultrapassar a segunda vaga da doença que, durante as próximas duas a três semanas, estimamos que se mantenha elevada", rematou.
Vacina contra a Covid-19 em janeiro?
Questionada sobre as declarações proferidas na manhã desta quarta-feira acerca da distribuição da primeira vacina contra a Covid-19, Marta Temido salientou que Portugal tem acompanhado as "diligências" da Comissão Europeia para garantir que a população europeia tem acesso à vacina através do Infarmed.
"Neste momento há a possibilidade de uma das vacinas estar calendarizada para chegar em janeiro", esclareceu, sublinhando: "O que queremos que aconteça é que o país esteja preparado para assegurar o armazenamento, a distribuição e a administração seguros (...) E é isso aquilo que nos compete [fazer]". "Temos de estar preparados caso a vacina chegue em janeiro a resposta seja efetiva".
Sobre o número de camas disponíveis para internamentos, Marta Temido voltou a lembrar que estas "são um bem finito", no entanto, "têm uma gestão flexível". "Vamos procurando afectá-las àquilo que são as necessidades de cada momento, de cada dia", havendo a possibilidade de aumentar algumas camas, activando algumas enfermarias.
Reveja a conferência de imprensa na íntegra:
As reuniões sobre a evolução da Covid-19 em Portugal, que juntam políticos, especialistas e parceiros sociais, vão ser retomadas na quinta-feira, pelas 10h00, no Infarmed, em Lisboa.
Em análise estão assuntos como a eventual prorrogação do Estado de Emergência, um balanço das medidas tomadas até agora e a tendência da evolução da Covid-19 no país, numa altura em que Portugal, assim como toda a Europa, enfrenta a segunda onda da pandemia.