O Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) denuncia esta quinta-feira que, "apesar da dramática falta de recursos do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (CHULC), recentemente reconhecida pelo Conselho de Administração, a presidente do Centro Hospitalar "insiste numa narrativa totalmente dissociada da realidade".
Em causa estão declarações feitas à RTP, esta segunda-feira, em que a presidente do Conselho de Administração do CHULC, Rosa Valente Matos, "recusou admitir que a prestação de atividade a doentes Covid e não-Covid apenas tem sido possível devido ao recurso sistemático a horas extraordinárias e ao extraordinário esforço por parte dos médicos".
Em comunicado enviado ao Notícias ao Minuto, o sindicato recorda que numa reunião, a 21 de outubro, o Conselho de Administração do Centro Hospitalar (que é composto pelo Hospital de São José, Santo António dos Capuchos e os Hospitais de Santa Marta e de D. Estefânia) "confirmou a falta de recursos humanos médicos deste hospital, que já se vem arrastando desde há anos".
Atualmente, sublinha a estrutura, "a situação foi muito agravada devido às necessidades acrescidas em tempo de pandemia, atendendo ao número crescente de doentes e a necessária multiplicação de camas e circuitos de doentes".
De acordo com o sindicato, a escassez de médicos deste Centro Hospitalar "é bem conhecida", seja em contexto de Serviço de Urgência, seja em enfermarias dedicadas a doentes Covid. Uma carência que, previsivelmente, irá "agravar-se nas próximas semanas, face à situação epidemiológica atual e a permanente necessidade de abertura de mais camas destinadas a doentes Covid, sem que as equipas médicas tenham sido ou venham a ser adequadamente reforçadas", antecipa o SMZS.
E, ao contrário do que aconteceu na primeira vaga da pandemia, sublinha-se, o CHULC mantém agora a restante atividade não-Covid em infecciologia e medicina interna "com um menor número de médicos destas especialidades e um maior número de camas atribuídas a utentes com Covid-19".
Nesse sentido, o sindicato alerta para o facto de que "sem equipas com um número adequado de médicos e não sendo garantido o necessário descanso aos profissionais, é a qualidade dos cuidados aos doentes que está em risco".
"O SMZS (...) considera injuriosas as afirmações feitas pela presidente do CA ao afirmar que o trabalho extraordinário é feito excecionalmente. O recurso ao trabalho extraordinário por parte dos médicos é, aliás, neste Centro Hospitalar, uma prática anterior à pandemia por Covid-19, intensificada durante este período, e ultrapassando em muito os limites legais previstos na legislação", denuncia a estrutura sindical.
O sindicato sublinha ainda que, "apesar do limite anual de horas extraordinárias ter sido suspenso em março, sob o pretexto da pandemia, e sem que os sindicatos médicos fossem ouvidos", mantêm-se "os limites relativos à duração de jornadas de trabalho, incluindo em serviço de urgência e cuidados intensivos, assim como o direito inalienável ao descanso compensatório, como garante de cuidados de saúde de qualidade".
"Este sindicato não pode admitir que a responsável máxima de um dos maiores centros hospitalares do país colabore nas ações de propaganda política que este Governo tem assumido", remata o SMZS.