João Gomes Cravinho, favorável ao investimento europeu em Defesa e segurança, mas adepto da cooperação histórica com a NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte), chamou a atenção para uma "emergente China" e uma "algo decadente, mas ainda poderosa Rússia", as quais salientou estarem a investir maciçamente na modernização militar e na expansão da sua presença global.
"Espero que a nova administração dos EUA, com o Presidente [eleito] Biden, esteja disposta a dialogar connosco sobre a melhor forma de reforçar a cooperação transatlântica na Defesa e segurança", disse, na sua intervenção de encerramento da conferência internacional e virtual "O Futuro da Aliança Atlântica", organizada pelo Instituto de Defesa Nacional, Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa e a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento.
Na perspetiva de Gomes Cravinho, como a liderança portuguesa da UE (entre janeiro e junho) coincide com a tomada de posse do sucessor de Donald Trump, é importante "descartar alguns erros de perceção e sublinhar publicamente a vontade mútua de evolução da parceria estratégica vital entre a UE e a NATO".
"O anúncio de que os EUA vão voltar a assinar o Acordo de Paris (medidas de redução de emissão de gases estufa a partir de 2020) é um progresso extremamente importante também em termos da segurança internacional. A nomeação de John Kerry para esta pasta é um sinal claro da prioridade que a futura administração Biden vai dar a esta matéria", elogiou.
O responsável governamental declarou que Portugal e a UE estão "bem cientes" de que não podem esperar que "a nova administração Biden resolva" todos os problemas de segurança da Europa.
"Temos de continuar a fazer a nossa parte. Mesmo numa altura de crise económica, temos de continuar a investir nas capacidades de Defesa", afirmou.
Numa análise geopolítica, o ministro português descreveu que "a China está cada vez mais presente em África, incluindo militarmente, nomeadamente nos portos", já que "o Djibuti tem agora uma base militar chinesa" e "a Rússia também está a marcar presença em África, no Mediterrâneo e no Atlântico, mesmo em regiões longe da costa".
"Seria um erro crer que os interesses ocidentais no Atlântico ou em África estão garantidos ou que estas regiões serão irrelevantes na competição geopolítica", segundo o governante.
O ministro da Defesa prometeu que a presidência portuguesa da UE vai "esforçar-se por melhorar o trabalho realizado em África, incluindo a segurança marítima, um domínio que não esteve no centro do pensamento europeu no passado".