O secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, clarificou a notícia do dia: a possibilidade de todos os maiores de 75 anos sem doenças graves não terem acesso prioritário às vacinas contra a Covid-19. O esclarecimento foi feito à margem da visita à Base Aérea Nº 11 de Beja, uma das estruturas de retaguarda para doentes com Covid-19 e ao Hospital Dr. José Joaquim Fernandes.
Começando por afirmar que "o Governo não comenta documentos internos, que não são versões finais", Lacerda Sales explicou que "esta é uma matéria em que há diferentes peritos com diferentes propostas".
Concretamente em relação à proposta da DGS, o governante assegurou que "inclui todos os idosos de lares sem limite de idade", bem como os "profissionais desses locais", "profissionais de saúde, das forças de segurança e os idosos com comorbilidades severas", mas, vincou, a "proposta ainda não foi analisada pelo Ministério da Saúde e, a seu tempo, com ponderação e serenidade, tomaremos uma decisão política".
Ainda assim, e tal como já tinha feito o primeiro-ministro António Costa esta manhã, o secretário de Estado afirmou que as "faixas mais vulneráveis sempre foram uma prioridade para este Governo", lembrando, a título de exemplo, o "trabalho feito em lares" durante a pandemia. Pelo que, prosseguiu, "não será agora que a idade será um limite para vacinação. Para este Governo não há nenhuma limitação da idade", rematou.
Os idosos serão uma prioridade neste primeiro período de vacinação, como tem sido prática deste Governo (António Lacerda Sales)
Lacerda Sales disse ainda que o "ruído não faz bem a ninguém", salientando que aquilo que "o objetivo é ter a maior cobertura possível" é haver "doses para vacinar e para termos a maior cobertura possível".
Mas, sublinhou, este processo de vacinação contra a Covid-19 "está a ser conjugado com todos os países da UE", no que diz respeito ao armazenamento, estratégia de vacinação, armazenamento, distribuição e administração das vacinas.
O que diz a (já polémica) proposta de especialistas da DGS
Segundo uma proposta de especialistas da Direção-Geral da Saúde, avançada esta sexta-feira por vários meios, as pessoas entre os 50 e os 75 anos com doenças graves, os funcionários e utentes de lares de idosos e os profissionais de saúde envolvidos na prestação direta de cuidados deverão ser os primeiros a ser vacinados contra a Covid-19.
Mas, segundo explicou o coordenador da 'task force', criada pelo Governo para definir todo o plano de vacinação contra a Covid-19, Francisco Ramos, à agência Lusa, a proposta apresentada pela Direção-Geral da Saúde (DGS) "não tem qualquer limite de idade para as pessoas internadas em lares".
"A existir, será pelas características das próprias vacinas e não por uma escolha de quem tem responsabilidade de decidir quem deve ser vacinado, nomeadamente quem será vacinado numa primeira fase", que abrangerá cerca de um milhão de pessoas, explicou.
Francisco Ramos disse também que os últimos detalhes ainda estão a ser trabalhados e que, provavelmente, na próxima semana a definição dos grupos prioritários ficará fechada. "Estamos a ultimar detalhes e pormenores no sentido de que tudo esteja pronto ainda este ano e a definição dos grupos prioritários provavelmente já na próxima semana, para quando a vacina chegar poder começar a ser utilizada", acrescentou.
Ainda segundo a proposta apresentada pela DGS, "quem não apresentar comorbilidades severas não estará nestes grupos de primeira prioridade".
Saliente-se que, este grupo de trabalho criado pelo Governo tem ainda de definir outras questões, designadamente os locais de vacinação e toda a logística de armazenamento e distribuição da vacina.
Sobre as outras matérias, o responsável escusou-se a adiantar mais informação, afirmando apenas: "Há já outras questões [a considerar] e brevemente teremos oportunidade transmitir a toda a população".
A 'task-force' criada pelo Governo para coordenar todo o plano de vacinação contra a Covid-19, desde a estratégia de vacinação à operação logística de armazenamento, distribuição e administração das vacinas, tem um mês para definir todo o processo.
Segundo o despacho publicado na quinta-feira em Diário da República, assinado pelos ministros da Defesa Nacional, Administração Interna e Saúde, este grupo de trabalho tem um mandato de seis meses, renovável em função do progresso da operacionalização da vacinação contra a Covid-19.
A 'task-force' tem um núcleo de coordenação, liderado pelo ex-secretário de Estado Francisco Ramos e que inclui elementos da Direção-Geral da Saúde, Infarmed e dos ministérios da Defesa Nacional e da Administração Interna e conta com o apoio técnicos de diversas estruturas.
O Estado-Maior-General das Forças Armadas, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, a Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, I. P. (INÇA), os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) e o Serviço de Utilização Comum dos Hospitais (SUCH) são as entidades de apoio técnico.