A investigação está a ser realizada por investigadores da Universidade de Lisboa, Coimbra, Minho, Universidade Lusíada de Lisboa e dos Agrupamentos de Centros de Saúde de Gaia e de Espinho/Gaia.
O objetivo é conhecer de que forma as pessoas que perderam alguém próximo durante este período foram afetadas pelas restrições durante o acompanhamento aos doentes em fim de vida, momento da morte, cerimónias fúnebres e rituais de luto e de que forma isso influencia a sua adaptação à perda no período de luto.
"É muito importante para nós conhecer as preocupações e necessidades das pessoas que passaram por esta experiência para que sejam desenvolvidas medidas que ajudem a lidar com o sofrimento da perda, tendo em conta o impacto provocado pelas restrições decorrentes da pandemia covid-19", explicou a psicóloga e uma das investigadoras Mayra Delalibera em declarações à agência Lusa.
As novas restrições trouxeram constrangimentos ao desenvolvimento deste estudo com dificuldades de contacto direto com os médicos de família pelo que os investigadores apelam à sua divulgação em lares, unidades de cuidados paliativos e centros de saúde para que consigam chegar às pessoas que passaram por esta situação.
"A sua colaboração é fundamental para aprofundarmos o conhecimento sobre esta experiência e sensibilizar os profissionais de saúde, decisores políticos e a comunidade em geral para o impacto das restrições impostas durante o estado de emergência na experiência de perda. Pretendemos, desta forma, contribuir para o desenvolvimento de medidas de saúde pública mais sensíveis às necessidades específicas das pessoas em luto em contexto pandémico", explicam os investigadores.
Através de um questionário dirigido a quem tem mais de 18 anos e perdeu alguém próximo durante o primeiro estado de emergência - entre 19 de março e 02 de maio de 2020 -, pretende-se aferir o impacto dos efeitos das medidas restritivas adotadas no processo de luto.
"Especificamente, estamos interessados em conhecer de que forma as pessoas que perderam alguém próximo durante este período foram afetadas pelas restrições durante o acompanhamento aos doentes em fim de vida, momento da morte, cerimónias fúnebres, rituais de luto e contacto social após a morte e de que forma isso influenciou a adaptação à perda no período de luto agudo e a longo-prazo", explicam.
Nas primeiras respostas que já conseguiram obter há dominadores comuns do que mais afetou quem viveu o luto durante esse período: Não poder visitar o familiar ou amigo doente, não poder estar presente no momento da morte, não ver o corpo no momento fúnebre e ainda não ter tido contacto fisico de apoio, um simples abraço.
A participação no estudo pode ocorrer de duas formas: por intermédio do médico de família do utente falecido ou por iniciativa da pessoa enlutada - através do questionário disponível online ou do contacto através do email lutocovidpt@gmail.com.
O estudo é composto por um questionário que avalia o impacto das medidas restritivas usadas durante a fase de emergência devido à pandemia por covid-19, o suporte social recebido, os rituais e as manifestações de luto.
De acordo com os investigadores, se no decorrer deste estudo for identificado algum dado de saúde mental relevante, será feito o encaminhamento segundo as necessidades e vontade do participante e serão disponibilizados aos participantes contactos da linha SNS 24, Linha de Apoio Psicológico e da Consulta de Luto da área de residência em todos os momentos de colheita de informação.
Se neste processo forem também forem identificados sintomas de Perturbação de Luto Prolongado, os entrevistados serão contactados pelos investigadores, que irão disponibilizar contactos para apoio especializado (caso ainda não o tenham) assim como articulação e informação dos resultados obtidos ao Médico Assistente se pretendido pelos intervenientes.
Segundo os investigadores, embora normativa, a perda de uma pessoa significativa é geralmente muito dolorosa e, em alguns casos, reveste-se de sintomatologia emocional e física que, pela sua intensidade e persistência, implica atenção médica.
Estima-se que, na população geral de enlutados, 10 a 20% apresentam sintomas de perturbação de luto prolongado que se caracteriza por manifestações de intensa dor emocional, forte anseio e dificuldade em aceitar a perda, perda de interesse e do sentido de vida, bem como incapacidade social e funcional que se mantêm para além dos 6 meses após a morte.
A equipa é composta por Alexandra Coelho, da Unidade de Medicina Paliativa do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, Carla Mota, Assistente de Medicina Geral e Familiar da Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos do agrupamento de Centros de Saúde Gaia e Daniela Cardoso e Pedro Frade, Psicólogos da Equipa de Apoio Psicossocial na Unidade de Medicina Paliativa e no Serviço de Oncologia médica do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte.
Fazem ainda parte desta equipa de investigação Helena Beça, da Unidade de Saúde Familiar Espinho, Mayra Delalibera, psicóloga e professora auxiliar da Universidade Lusíada de Lisboa, Pedro Teixeira, psicólogo e professor auxiliar da Escola de Medicina da Universidade do Minho, Sara Albuquerque, Psicóloga Clínica do Centro clínico PIN e Soraia Santos, Assistente de Medicina Geral e Familiar da Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados Crestuma - Agrupamento de Centros de Saúde Espinho/Gaia.