Viúva de ucraniano confessa "ódio" por Portugal. Só o queria "de volta"

"Só quero que mo tragam de volta", referiu, em lágrimas, a viúva do ucraniano que morreu no Aeroporto de Lisboa, em entrevista à SIC.

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Notícias ao Minuto
09/12/2020 20:43 ‧ 09/12/2020 por Notícias ao Minuto

País

Ihor Homeniuk

A viúva do cidadão ucraniano que morreu no Aeroporto de Lisboa, Oksana Homenyuk, ainda não consegue ouvir a palavra "Portugal". Em entrevista à SIC Notícias, visivelmente emocionada, a mulher de Ihor Homeniuk assume que não quer nada do país onde o marido morreu. Só o queria "de volta", mesmo que fosse "inválido".

Frustada com a situação, Oksana Homenyuk diz que nunca pensou que, "num país europeu, uma coisa destas pudesse acontecer. Na Europa, os direitos humanos estão acima de tudo".

O facto de a morte ter acontecido num aeroporto, um local tão movimentado, deixam a viúva igualmente perplexa. "Tantas pessoas viram-no. Tantas pessoas sabiam o que estava a acontecer e ninguém ajudou. Ainda hoje não consigo entender como é que isto pode ter acontecido".

Apesar de reconhecer que "há muitas pessoas que não têm culpa de nada", Oksana Homenyuk confessa que sente "ódio" de cada vez que ouve "a palavra Portugal".

Nove meses depois da morte do marido, Oksana Homenyuk não recebeu qualquer tipo de apoio do Estado português, mas, "depois do que aconteceu", não quer "nada", não quer "dinheiro nenhum. Só quero que mo tragam de volta, nem que seja inválido".

Na acusação que foi deduzida, o Ministério Público considerou que "ficou suficientemente indiciado" que, em março deste ano, um cidadão ucraniano foi conduzido à sala do Estabelecimento Equiparado a Centro de Instalação, no Aeroporto de Lisboa, para aguardar pelo embarque num voo com destino a Istambul, tendo-se recusado a fazê-lo.

Perante a agitação que apresentava, Ihor Homenyuk acabou por ser isolado (na sala dos Médicos do Mundo) dos restantes passageiros estrangeiros, onde permaneceu até ao dia seguinte.

Os inspetores acusados dirigiram-se à sala onde estava o cidadão, tendo-lhe algemado as mãos atrás das costas, amarrado os cotovelos com ligaduras e desferido um número indeterminado de socos e pontapés no corpo.

"Com o ofendido prostrado no chão, os arguidos, usando também um bastão extensível, continuaram a desferir pontapés, atingindo o ofendido no tronco. Ao abandonarem o local os arguidos deixaram a vítima prostrada, algemada e com os pés atados por ligaduras", refere a acusação.

Horas depois, e depois de a vítima não reagir, acabou por ser acionado o INEM e uma viatura médica de emergência, tendo o médico de serviço da tripulação verificado o óbito do cidadão ucraniano.

Segundo o Ministério Público, as agressões cometidas pelos inspetores do SEF, que agiram em comunhão de esforços e intentos, provocaram a Ihor Homenyuk "diversas lesões traumáticas que foram causa direta" da sua morte.

Recorde-se que a diretora do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), Cristina Gatões Batista, demitiu-se hoje das suas funções, revelou o Ministério da Administração Interna.

Foi no mandato de Cristina Gatões que os três inspetores do SEF foram acusados de envolvimento na morte do cidadão ucraniano, nas instalações do serviço no aeroporto de Lisboa, e que deu origem à demissão do diretor e do subdiretor de Fronteiras do aeroporto.

Em novembro, sublinhe-se ainda, Cristina Gatões admitiu que a morte do cidadão ucraniano no aeroporto de Lisboa foi resultado de "uma situação de tortura evidente".

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