Marques Mendes considerou este domingo, no seu espaço de comentário, que "durante vários meses toda a gente negligenciou" o caso da morte do ucraniano nas instalações do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), no aeroporto de Lisboa. E toda a gente inclui "o Presidente da República, o Governo, os partidos, uma grande parte da comunicação social". Neste último campo, houve "duas honrosas exceções - o Diário de Notícias e o jornal Público", destacou.
O comentador disse que, "verdadeiramente, o país só acordou para o assunto esta semana", depois da demissão da diretora do SEF e da entrevista da viúva à SIC.
"O Governo, na prática, demorou nove meses a atuar", apontou o comentador, considerando que, nesta situação, "não tem explicação", uma vez que o Executivo "não depende da opinião pública nem da opinião publicada". A obrigação do Governo, frisou Marques Mendes, é "agir, independentemente da opinião pública dar mais ou menos atenção".
No entender do social-democrata, só volvidos nove meses é que o Governo tomou as duas "decisões fundamentais": a demissão da diretora do SEF e a indemnização à família de Ihor Homeniuk, decidida no Conselho de Ministros da última quinta-feira. O comentador lamentou também a "insensibilidade inacreditável" do Estado, do Governo e do organismo em causa porque "nenhum deles pagou as despesas da trasladação" do cidadão morto em Portugal.
Marques Mendes apelidou de "ridícula" a conferência de imprensa em que o ministro da Administração da Administração Interna criticou aqueles que só agora despertaram para o combate pela defesa dos direitos humanos. "Depois de tudo o que aconteceu, o ministro não tem condições políticas para continuar em funções", defendeu o comentador. Eduardo Cabrita "pode continuar em funções", mas não tendo condições, será "uma questão de tempo até sair", acredita o social-democrata.
"Primeiro, porque agiu tarde e a más horas. Depois, porque agiu de forma pressionada pela opinião pública. E depois, já está a ser criticado por toda a gente, incluindo pelo seu próprio partido, por Ana Catarina Mendes", analisou.
Na opinião do comentador, a conferência de imprensa após o Conselho de Ministros foi o 'golpe' final para o ministro porque "em política, o ridículo mata". Marques Mendes referia-se concretamente ao facto de o ministro ter assumido uma postura de que "toda a gente esteve mal estes nove meses e que só ele é que esteve bem", quando só agora é que actuou. Mendes não gostou de ver Eduardo Cabrita "a vangloriar-se". "Parecia a última coca-cola do deserto", atirou.
Outro dos aspetos "ridículos" foi o ministro ter inventado "a ideia de que ele é que salvou a recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa", ao evitar mortes de civis nos incêndios nos anos que se seguiram ao dos trágicos fogos.
"Um ministro que atua desta maneira, já que não tem o bom senso de pedir a demissão, devia ser posto na rua imediatamente", defendeu, antecipando um desfecho semelhante ao de Constança Urbano de Sousa. "Acho que lhe vai acontecer o que aconteceu à antecessora, arrastar-se penosamente no tempo até sair pela porta mais pequena", conjeturou.
Neste caso, Marques Mendes não isenta o primeiro-ministro de responsabilidades. "Que se saiba, não fez nada durante nove meses, não liderou (...) E agora resolveu segurar o ministro. Optou por defender um amigo. É muito bonito do ponto de vista pessoal, mas muito mau do ponto de vista institucional", criticou, lembrando que em causa está o prestígio das instituições.
Face a tudo o que se passou, o comentador entende que Eduardo Cabrita não tem condições para liderar nenhuma reforma do SEF e que, aliás, acelerar esta reforma "é uma manobra de diversão para desviar as atenções do assassinato do ucraniano".
Marques Mendes criticou ainda facto de o diretor nacional da PSP ter revelado o que estaria em cima da mesa em relação ao organismo em causa, considerando as declarações de Magina da Silva aos jornalistas após a audiência com o Presidente da República "inqualificáveis" e que estas são a prova que "está tudo sem rei nem roque", que "já ninguém confia no ministro" e que há uma falta de autoridade. "A solução é substituí-lo, quanto mais depressa melhor", finalizou.