"Nenhum receio. Eu digo a brincar aos meus doentes que o meu braço já está há 15 dias aos pulos para levar a vacina", contou aos jornalistas o médico Francisco Azevedo, responsável do Departamento de Medicina e do Internamento Covid no Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE).
A vacinação contra a covid-19 arrancou hoje de manhã nesta unidade hospitalar, que recebeu 350 das 1.135 vacinas que, para já, chegaram ao Alentejo.
Numa sala não muito longe da área de internamento da covid-19, foram montados cinco postos de vacinação. Francisco Azevedo foi um dos primeiros contemplados.
"Sermos vacinados é um momento importante para Évora e para o Alentejo, porque penso que é o momento em que podemos fazer uma viragem na pandemia, na perspetiva de ficarmos mais seguros", congratulou-se.
Os últimos tempos, desde o início da pandemia provocada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, têm sido "um período intenso" de trabalho, com reflexos fora do hospital.
Os dias têm sido vividos "dormindo mal, às vezes, com dificuldades", relatou, acrescentando: "Mas, até agora, temos sido capazes de levar a bom porto esta epopeia que é lidar com esta situação".
Do outro lado da sala, sentada numa cadeira à espera de "levar a pica", a médica Maria Manuel Reis disse não ter ansiedade.
"Estou muito contente por este momento, porque acho que é uma evolução enorme na ciência. Com a idade que eu tenho nunca pensei viver isto, portanto, não tenho de estar ansiosa, tenho é de estar com esperança que rapidamente a gente consiga controlar esta guerra", partilhou.
A especialista em Medicina do Trabalho e responsável pela Saúde Ocupacional no HESE expressou "total confiança na vacina", mas a segurança não é "a razão principal" para se ter voluntariado para a receber.
"É para que os trabalhadores desta casa aceitem e não desistam da vacina e não desistam das guerras, visto que sou a responsável por eles", notou.
Trata-se de um contributo para vencer a "guerra", no âmbito da qual é preciso "controlar esta contagiosidade desenfreada" que existe, opinou.
"Os hábitos que temos e que adquirimos agora, como o uso das máscaras, o distanciamento, a lavagem das mãos, acho que é uma coisa para todo o sempre, mas só as novas gerações é que nos vão ensinar", argumentou a clínica.
O mundo tinha chegado "a um patamar da civilização" marcado por "imensa promiscuidade" e o vírus que provoca a covid-19 "vem ensinar-nos que tínhamos de voltar novamente a viver", considerou a clínica.
Deolinda Grazina, enfermeira da Nefrologia, é uma das profissionais de serviço "todo o dia" para administrar a vacina aos colegas do HESE. E também será vacinada hoje.
"Temos sofrido um bocado e é uma luz ao fundo do túnel. Pode ser que isto nos leve ao nosso normal, nem que seja um normal melhorzinho do que este", disse, em forma de desejo.
O início da vacinação em Évora, que abrange igualmente profissionais dos cuidados de saúde primários do Agrupamento dos Centros de Saúde (ACES) do Alentejo Central - que recebeu 125 doses -, contou com a presença dos secretários de Estado adjuntos da Saúde e da Defesa Nacional, António Lacerda Sales e Jorge Seguro Sanches, respetivamente.
Segundo a Administração Regional de Saúde do Alentejo, o processo arrancou igualmente esta manhã nas unidades locais de Saúde do Baixo Alentejo (recebeu as primeiras 180 vacinas), do Norte Alentejano (295) e do Litoral Alentejano (185).