Com uma potência instalada de 1.256 MW, a central a carvão de Sines chegou a abastecer um terço da eletricidade consumida em Portugal, no início dos anos 90, e foi perdendo peso com o crescimento das energias renováveis, tendo assegurado apenas 4% do consumo elétrico em 2020, segundo dados da REN.
A central tem 107 trabalhadores diretos, com os quais está a ser negociado "um conjunto de diferentes opções", desde a passagem a reforma ou pré-reforma ou o acesso a oportunidades de mobilidade dentro do grupo, segundo fonte oficial da EDP.
"A EDP iniciou contactos em setembro do ano passado, como planeado após o anúncio do fecho da central, para avaliarem em conjunto as diferentes opções. Esse processo [...] tem decorrido com total colaboração e dentro dos prazos previstos", refere, adiantando que "em todos os casos, a principal prioridade tem sido a de garantir que os compromissos da empresa com os seus 107 trabalhadores são integralmente cumpridos e no melhor interesse de ambas as partes".
Em relação aos cerca de 400 trabalhadores indiretos, a energética remete esclarecimentos para as "empresas prestadoras de serviços com a quais têm contratos".
O último dia de produção de eletricidade na central de Sines, em Setúbal, foi na quinta-feira, iniciando-se agora desativação dos equipamentos, um processo que deverá levar cerca de cinco anos, continuando em aberto o futuro daquela infraestrutura.
Com o fecho de Sines, Portugal tem apenas uma central a carvão operacional, a do Pego, que deverá encerrar até novembro.
Na quinta-feira, a associação ambientalista Zero considerou que o encerramento da central termoelétrica de Sines vai trazer a "redução mais significativa de emissões" de gases com efeito de estufa que já se viu em Portugal.
O fim da laboração da central significa também o fim de cerca de um décimo das emissões de óxidos de azoto, dióxido de enxofre, partículas e metais pesados em Portugal, assinala a Zero.
Em relação ao futuro das infraestruturas em Sines, a EDP adianta que "continua em estudo a possibilidade de desenvolver projetos que possam aproveitar parte das infraestruturas existentes naquela localização".
O projeto para produção de hidrogénio verde é uma dessas possibilidades, adianta, referindo que "está ainda numa fase de estudo com vários parceiros. O projeto H2Sines, como é público, nasceu neste contexto como uma parceria que integra várias empresas -- entre as quais a EDP, a REN, a Galp, a Martifer, a Vestas e a Engie -- para avaliar a viabilidade da criação de uma cadeia de valor do hidrogénio verde em Portugal destinado ao consumo nacional e à exportação para o norte da Europa".
Em 2018, o então presidente executivo da EDP, António Mexia, admitiu antecipar o fecho da Central de Sines, para "bastante antes de 2025", devido ao aumento da carga fiscal aplicada às centrais a carvão, referindo-se ao fim da isenção do Imposto sobre os Produtos Petrolíferos (ISP) e à introdução de uma taxa de carbono através do Orçamento do Estado daquele ano.
Naquela altura, Mexia alertava para o impacto que o encerramento da Central de Sines teria na economia da região, nomeadamente ao nível do emprego, no preço grossista de eletricidade, admitindo também colocar questões na segurança do abastecimento em Portugal.
No discurso de tomada de posse em outubro de 2019, o primeiro-ministro, António Costa, anunciou que o seu novo Governo estava preparado para encerrar a central de Sines em setembro de 2023, antecipando o calendário previsto para o encerramento que era "entre 2025 e 2030".
Em 2020, a EDP decidiu antecipar o encerramento das suas centrais a carvão na Península Ibérica (em Sines e nas Astúrias, Espanha), tendo em conta "a continuada deterioração das condições de mercado para estas centrais durante o primeiro semestre".
No final do ano passado, a energética recebeu as autorizações necessárias para encerrar a atividade na central a carvão de Sines a partir de hoje.
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