A 32.ª sessão do julgamento, que decorre no Tribunal Central Criminal de Lisboa, foi exclusivamente preenchida com a audição por videoconferência do antigo senhorio húngaro Balint Bozo, que confirmou que Rui Pinto arrendou um quarto de um apartamento em Budapeste entre 2015 e 2016, descrevendo-o como "um rapaz novo, boa pessoa e português".
Foi então solicitado ao criador do 'Football Leaks' que se aproximasse do computador onde estava a ser efetuada a videoconferência para que a testemunha o identificasse. Perante as dificuldades manifestadas para reconhecer Rui Pinto com a máscara, os juízes pediram ao arguido para retirar a máscara, algo que o jovem de 32 anos e a advogada Luísa Teixeira da Mota recusaram, invocando o receio de uma eventual infeção pelo novo coronavírus.
O coletivo de juízes e os outros advogados presentes na sala de audiência chegaram a levantar-se dos seus lugares e a afastarem-se para que Rui Pinto pudesse tirar a máscara com uma distância de segurança, mas nem assim o principal arguido do processo retirou a máscara.
Os juízes acabaram então por recorrer a uma fotografia do criador da plataforma eletrónica utilizada num artigo da imprensa para mostrar à testemunha, com esta a confirmar que se tratava de Rui Pinto. O próprio arguido -- que hoje estava a utilizar duas máscaras em simultâneo - confirmou que era uma fotografia sua, para que não restassem dúvidas.
Balint Bozo adiantou ainda que Rui Pinto acabou por deixar o quarto do apartamento que partilhava com outras pessoas ao fim de cerca de um ano para ir viver sozinho para outra casa, acrescentando que o quarto chegou a ser inspecionado pelas autoridades policiais em 2019, aquando dos procedimentos que levaram à detenção do jovem.
A próxima sessão do julgamento está agora marcada para terça-feira, às 09:30, com a audição do antigo responsável do sistema informático do fundo de investimento Doyen, Jake Hockley.
Rui Pinto, de 32 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.
O criador do 'Football Leaks' encontra-se em liberdade desde 07 de agosto, "devido à sua colaboração" com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu "sentido crítico", mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.