Vacinação em alguns corpos de bombeiros em Coimbra motiva duras críticas

O presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito de Coimbra (FBDC) considerou hoje "uma vergonha" que já existam bombeiros vacinados no distrito, quando a maioria das corporações não sabe a data da vacinação dos seus operacionais.

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Lusa
24/01/2021 18:15 ‧ 24/01/2021 por Lusa

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Covid-19

 

"Isto é uma verdadeira vergonha e um escândalo o que está a acontecer. Infelizmente, mais uma vez, se vem provar que o sistema das cunhas funciona e que não há uma política a nível distrital para resolver estas coisas", criticou Fernando Carvalho à agência Lusa.

O dirigente diz que não tem "mais adjetivos para qualificar aquilo que se está a passar a nível distrital".

Segundo Fernando Carvalho, "haverá eventualmente quatro ou cinco corpos de bombeiros do distrito que têm alguns elementos vacinados, mas a maioria não tem".

"Como é que foram vacinados alguns elementos de corpos de bombeiros e não foram vacinados outros? Temos de saber, dentro de cada concelho, a quem é que o Ministério da Saúde delega as vacinas, a quem as entrega", questionou, escusando-se a revelar nomes.

Ouvido pela agência Lusa, o presidente da Liga de Bombeiros Portugueses (LBP), Jaime Marta Soares, fala em "compadrio político" e "numa desvergonha sem dimensão", que está a colocar "bombeiros contra bombeiros".

"Quem o fez não terá sido para prejudicar o seu colega, mas deixaram-se envolver numa teia que permite limpar a face da incompetência, da descoordenação e da falta de rigor e desonestidade, no mínimo, intelectual", sublinhou.

Para Jaime Marta Soares, o ministério da Administração Interna, que tutela os bombeiros, devia perguntar ao Ministério da Saúde "como é que isto é possível", defendendo um plano "uno e indivisível" a iniciar com a máxima "urgência possível".

"Desde sábado e hoje que andam a oferecer vacinas para segunda-feira, mas então o que é isto, que desnorte é este?", questiona o dirigente, que na sexta-feira exigiu "transparência e rigor" ao Governo sobre a vacinação contra a covid-19 daquele setor, acusando o processo de ser anárquico e pretender "dividir os próprios bombeiros entre filhos e enteados".

O presidente da LBP revelou ter tomado conhecimento que restos de um lote de vacinas destinado a idosos de uma viatura acidentada foram utilizados na vacinação de bombeiros do distrito de Setúbal.

A Liga "não pode aceitar que haja a intenção de criar exceções, nomeadamente com restos, fazendo crer que os bombeiros são portugueses de segunda", frisou, defendendo a definição de critérios e articulação com as entidades representativas do setor para se encontrarem soluções.

O Comandante de Operações Distrital de Coimbra da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, Carlos Luís Tavares, disse à agência Lusa que o processo de vacinação dos bombeiros ainda não começou e que se aguarda a qualquer momento que tenha início.

Assumindo que tem conhecimento de que algumas corporações já têm elementos vacinados, o responsável frisou que "há um processo de vacinação dos bombeiros que é para avançar todo ao mesmo tempo".

"Se há corporações vacinadas não sei como o fizeram, porque o processo não passou por nós", sublinhou Carlos Luís Tavares, considerando que se existem sobras o "mais lógico" seria informar a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, que, por sua vez, entraria em contacto com os comandantes distritais que as "distribuíam por todos".

Miguel Baptista, presidente do município de Miranda do Corvo, que há cerca de três meses tem vivido com muitas restrições por causa da pandemia da covid-19, considera a situação "inacreditável", agravada pelo facto de ter sido "aplicada a profissionais que não efetuam transporte de doentes covid-19".

Para o autarca, as sobras [de vacinas] não devem ser desperdiçadas, mas devia existir uma articulação entre a autoridade de saúde e o Comando Distrital de Operações de Socorro "para que fosse feita uma distribuição justa pelos bombeiros que estão na linha da frente".

"O distrito é pequeno, pelo que o tempo de transporte permitia distribuir as sobras por um número maior de corporações, de forma justa e equilibrada, o que não terá sido feito", sublinhou à agência Lusa Miguel Baptista.

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