Andreia Castro é médica e recorreu ao Instagram, no final de janeiro, para partilhar um desabafo sobre a situação dos profissionais de Saúde durante a pandemia da Covid-19. "Pensei muito antes de escrever um post sobre aquilo que mais é falado, quando parece que nada mais há a dizer", sublinhou, antes de começar o seu testemunho, intitulado "Estamos Exaustos".
São 6 da manhã e continuo serviço pela segunda noite consecutiva. Quando dou por mim, são quatro noites numa semana. É só mais uma, e nós achamos sempre que aguentamos. O serviço precisa. A equipa precisa. O corpo não precisa há muito, e a alma fica todos os dias um bocadinho mais despida, um bocadinho mais deixada para trás nos corredores do hospital", sublinha Andreia.
Uma noite, prossegue, ao chegar a casa após, "as palavras do meu namorado foram apenas - 'estás destruída'", revela. "Quem trabalha em saúde e presta assistência a doentes Covid (seja nos centros de saúde, lares ou outras instituições) vem trabalhar, volta para dormir e ainda salta refeições pelo meio porque a fome é secundária".
Andreia explica que os profissionais também querem "pedir ajuda", mas "não sabemos mais a quem nos virar por apoio quando os principais pilares somos nós e todos nos querem arrancar um pedaço, à velocidade do freguês que chega com pressa para almoçar". E deixa uma frase forte: "Sim, vocês que nos aplaudiram também nos apunhalaram pelas costas... e agora estamos nisto".
"Queremos ajudar todos por igual, mas não conseguimos"
A médica, que é também travel blogger, aponta ainda que "queremos ajudar todos por igual, mas não conseguimos. Ouvimos reclamar por 3-6-12 horas de espera com direito a atendimento completo e dever de final feliz que não podemos prometer, quando nós vivemos esta realidade 24 horas sobre 24 horas há 12 meses".
E "as pessoas não param de chegar". "Telefonamos para aqui e para ali, envergonhados por pedir mais uma transferência de um doente grave. A maioria volta para as suas casas, mas muitos vêm diariamente para as nossas - de cabeça na almofada, revemos abordagens em que podíamos ter sido melhores, mais calmos, mais disponíveis, mais pacientes. Mas já não temos gás (e por vezes até cortesia, arrisco-me a dizer)".
"Nós 'frontliners' estamos exaustos, física e sobretudo emocionalmente. A preocupação rouba o pouco tempo ao descanso, e entretanto é altura de pegar no turno outra vez. Seguem-se mais 24 horas", termina o relato.
Por fim, Andreia Castro deixa a 'receita' para regressarmos à nossa vida como ela era: "Máscara, distanciamento social e vacina. Só assim podemos voltar a ter uma vida normal".
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