O diretor do departamento de infeciologia do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge explicou, esta quarta-feira, na TVI24, quais os maiores receios dos investigadores perante a chegada da variante do Brasil do novo coronavírus a Portugal.
Apesar desta variante ter a mesma mutação que a estirpe encontrada no Reino Unido e em África do Sul, "que lhe dá maior transmissibilidade", João Paulo Gomes revelou, em entrevista à TVI 24, que o grande "motivo de preocupação" é uma outra mutação que "está no domínio de ligação do vírus às nossas células".
"A maior preocupação não é propriamente por potenciar a transmissão, acima de tudo é porque esta segunda mutação, que se chama 484, é uma mutação que se sabe modificar o local onde se ligam alguns dos nossos anticorpos e, nessa perspetiva, há sempre o receio de os anticorpos deixarem de ligar e de alguma forma haver o esconder do vírus no nosso sistema imunitário e daí os receios", disse, especificando que esta nova estirpe pode colocar em causa a viabilidade da vacina.
"Não diria uma doença mais grave, mas problemas na vacina, se as que já estamos a administrar serão tão eficazes", clarificou.
"Uma suspeita com bastante robustez"
As explicações do responsável surgem depois de ter sido anunciado que surgiram dois casos da variante do Brasil em Portugal.
De acordo com João Paulo Gomes, "tratam-se de dois casos que foram detetados por um teste de diagnóstico que é um pouco mais específico que os ditos testes normais e que permite detetar com um bom grau de probabilidade a presença da variante do Brasil porque deteta em particular uma mutação que é exclusiva da variante do Brasil".
Ambos os testes foram identificados, segundo o responsável, pela Unilabs, na cidade do Porto. Por ser necessário ter "um bocadinho de cautela nisto", o laboratório enviou para o INSA as amostras, onde serão agora "sujeitas à sequenciação total de genoma e onde, aí sim, será possível identificar todas as mutações que são características da variante do Brasil e perceber se de facto os casos suspeitos se confirmam ou não".
Apesar de ainda não se ter certezas de que se trata da variante do Brasil, João Paulo Gomes assume que "é uma suspeita com bastante robustez".
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