"Há um consenso, hoje, de que é preciso repensar a NATO e há um elemento fundamental que é a mudança de administração em Washington, que cria um ambiente completamente diferente, muito mais positivo e de compromisso com o futuro da NATO", disse Gomes Cravinho, em entrevista à agência Lusa, que será publicada hoje e quinta-feira.
Entre hoje e quinta-feira, decorre uma reunião por videoconferência de responsáveis pela Defesa da NATO, versando, entre outros assuntos, as missões em curso no Afeganistão e no Iraque, o reforço da dissuasão e defesa da Aliança Atlântica e a iniciativa "NATO 2030".
O ministro lembrou declarações que considerou "bastante exageradas" do presidente francês, Emmanuel Mácron, no final de 2019, em que o chefe de Estado gaulês sentenciou a "morte cerebral" da NATO.
Para Gomes Cravinho, o facto de haver uma nova administração norte-americana favorecerá "também um quadro" de "mais tranquilidade entre aliados" para "pensar no destino coletivo enquanto organização de defesa comum".
Na reunião, disse, "vai haver uma primeira abordagem às propostas da 'NATO2030' e criar-se-ão um conjunto de propostas para a cimeira da NATO que julgamos terá lugar em junho deste ano", previu, referindo-se ao futuro documento da Aliança Atlântica, promovido pelo seu secretário-geral, o norueguês Jens Stoltenberg, com o intuito de tornar a NATO "mais forte militarmente, mas também politicamente e com uma abordagem mais global".
O Alto Representante da União Europeia para a Política Externa e de Segurança, o catalão Josep Borrell, e os ministros da Defesa da Finlândia e da Suécia também vão participar no encontro.
"Escrevi uma carta de felicitações e sei que -- porque há contactos a nível inferior, da nossa Embaixada com o Pentágono -- haverá uma resposta que virá em breve. Amanhã [quarta-feira] será a primeira oportunidade de dialogar com o secretário da Defesa dos Estados Unidos [Lloyd J. Austin III]", concluiu Gomes Cravinho sobre contactos entre Portugal e o novo presidente dos EUA.
Sobre o futuro da organização, Gomes Cravinho disse ver com satisfação o crescimento, entre os países da União Europeia, da ideia de que a NATO e a União Europeia, na Defesa, podem ser complementares e que foi "ultrapassada muito significativamente" a "desconfiança".
"Aquilo que são as características de cada organização tornaram-se muito mais evidentes, em parte com a pandemia [de covid-19], em parte com as ameaças híbridas", considerou.
Na lógica da defesa militar "não há melhor que a NATO" mas, no que respeita às ameaças híbridas e a desafios "que tem uma natureza societal" encontra-se melhor resposta por via da União Europeia, defendeu, dando como exemplo um "ataque biológico".