"Crer em Deus criador significa, neste tempo que nos cabe e justamente nos preocupa, estar sempre do lado da vida de todos e de cada um, reconhecendo o valor absoluto que detém do próprio Deus e protegendo-a em todo o seu percurso do ventre materno à morte natural", referiu D. Manuel Clemente, numa celebração com transmissão 'online'.
Segundo o portal da agência Ecclesia, "numa crítica indireta à legalização da eutanásia, o responsável católico destacou que a defesa da vida não tem qualquer exceção, mesmo legalmente autorizada". Isto, por considerar que esta "rapidamente deslizaria para a respetiva negação".
Manuel Clemente apelou para uma "frente comum de humanidade cuidadora e paliativa".
"Nesta Quaresma, e na sociedade que integramos, a conversão a Deus Pai, todo-poderoso, criador do céu e da terra, exige-nos atitudes firmes neste ponto, face a eventuais disposições legais e quanto à consciência que as examina e supera", afirmou.
A homilia no primeiro dia de Quaresma, tempo de preparação para a Páscoa, falou da "graça da conversão", a que "mais importa" especialmente quando a pandemia "confina fisicamente, mas não fecha o coração".
Manuel Clemente garantiu que a Igreja Católica vai continuar a acompanhar todos os que "sofreram e sofrem com a presente pandemia, bem como os que abnegadamente trabalham para a debelar no setor da saúde e na sociedade em geral", apontando para a excecionalidade do período que se vive.
"Esta Quaresma é diferente por causa da pandemia que temos de vencer, e que Cristo quer vencer exatamente connosco e através de nós apoiando todos que estão na primeira linha do seu combate no sistema de saúde e na sociedade em geral", sublinhou.
O cardeal-patriarca de Lisboa observou também que as pessoas estão privadas de "muitos gestos" como da imposição das cinzas, "que é tão significativo", e outros gestos sacramentais que ao longo da Quaresma se vão desdobrando e lembrou que quando Jesus viveu a sua Quaresma, no deserto, "estava só ele e o Pai".
A Quaresma é um tempo de 40 dias que se inicia hoje, com a celebração das Cinzas, marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência como preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário católico (04 de abril, em 2021).
O parlamento aprovou em 29 de janeiro a despenalização da morte medicamente assistida e, se o Presidente da República a promulgar e a lei entrar em vigor, Portugal será o quarto país na Europa, e o sétimo no mundo, a despenalizar a eutanásia.
A lei prevê que pode pedir a morte medicamente assistida, ou eutanásia, uma pessoa "maior, cuja vontade seja atual e reiterada, séria, livre e esclarecida, em situação de sofrimento intolerável, com lesão definitiva de gravidade extrema de acordo com o consenso científico ou doença incurável e fatal".
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